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d'aquém e d'além

COISAS E COISINHAS DO NOSSO MUNDO augusto semedo

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COISAS E COISINHAS DO NOSSO MUNDO augusto semedo

Há um tempo para tudo

Augusto Semedo, 28.04.13

Reflicto agora sobre a singularidade de uma conversa com um dos meus atletas jovem: como tão raras vezes, na voracidade dos dias, existe oportunidade para diálogos tranquilos sobre temas que tomam a nossa existência. Muitas vezes fiquei agradado com o seu comportamento desportivo e social perante o grupo que integra; como já aconteceu precisamente o contrário, tantas outras vezes.
No fundo, a inconstância, a irreverência e o desprendimento, que já nos caracterizavam também quando tínhamos a sua idade, contrastam com a maturação entretanto encontrada através da instrução que a vida adulta, com momentos marcadamente vivenciados, nos transmitiu. Éramos então jovens igualmente ingénuos e inseguros, simultaneamente de mente fresca e com certezas absolutas aparentes, investidos de uma vontade em mudar o mundo e de uma energia que acreditávamos nunca se esgotar, tal como acontece com os de hoje. Olhando-os, vemos duas diferenças apenas, embora significativas, que traduzem um tempo novo para uma geração com desafios perigosamente escondidos: crescíamos então num contexto mais modesto e comunitário, que apelava à responsabilidade individual perante os outros e a uma interacção potenciadora de partilha e de respeito mútuo; e não tínhamos pais que faziam dos filhos seres únicos e os mais especiais do universo mas alguém que integrava uma comunidade com os mesmos direitos e deveres dos outros.
É engraçado como as experiências nos fazem mais maduros mas também nos ensinam a relativizar e até a lançar dúvidas sobre tantas certezas absolutas que em tempos nos mobilizaram, sendo mesmo a matriz para decisões (criteriosas ou estúpidas) nucleares na nossa vida. Afinal, o mundo até mudou mas fomos nós quem a ele se obrigou a adaptar; e a energia vai-se esgotando, tanto mais rápido quanto nos deixarmos abater pelos dissabores.
Há um tempo para tudo, de facto. E compreende-lo é importante, embora haja comportamentos capazes de penalizarem realidades colectivas. Devemos ser tolerantes, fazendo compreender a necessidade de mudança; ou intransigentes, agindo condicionados pela necessidade de obtenção do resultado final? Nesta sociedade, será que quem compreende os outros dificilmente será considerado e conquistará sucesso? Aqueles que se compreendem a si próprios, condicionando a realidade envolvente às suas estratégias pessoais, estarão por essa forma mais próximos dos seus objectivos?

Adeus sentido

Augusto Semedo, 11.03.08

Contrariado, mas em respeito por mim próprio, abandonei funções no Recreio Desportivo de Águeda.

A quebra, total, do acordo que fora estabelecido na reunião de 25 de Junho de 2007, proposto pelo presidente do clube e aceite por mim, no que respeita às funções e às condições para as exercer, obrigou-me a tomar esta decisão.

Gostaria de expressar o meu profundo apreço a todos os que mostraram ter uma atitude construtiva ao longo deste período e de desejar o melhor para o futuro do clube que sigo desde a infância.

No meu tempo é que era?

Augusto Semedo, 28.02.08

Nos anos 80, quando comecei com esta doidice de ser treinador de futebol, a prática desportiva não estava tão generalizada. Muitos rapazes eram impedidos pelos seus progenitores, iniciava-se a formação mais tarde, não havia tantos clubes nem tantos agentes, mais ou menos qualificados, a enquadrar a actividade.

O mundo era mais acanhado; os jovens, mais atentos, tinham pouco por onde se dispersar. Os estímulos eram escassos, a vida mais pacata, as condições rudimentares e os clubes uma oportunidade para abrir horizontes que de outro modo se revelavam inacessíveis.

A realidade, 23 anos passados, mudou profundamente. Os pais acompanham mais, intrometem-se demais, preocupam-se com tudo, pressionam, exigem... Os jovens, mais conhecedores do mundo, têm hoje um andamento grande; o mundo está à distância de estímulos constantes e variados; as condições de vida melhoraram consideravelmente; os clubes da terra perderam peso mas recebem mais praticantes, estão genericamente melhor organizados e têm uma logística mais cuidada...

A televisão tem profunda influência. Mais, muitas vezes, que os treinadores. Dantes, ensinava-se e o atleta procurava interpretar, seguindo as indicações e concentrando-se nas suas tarefas. Poucos jogos eram transmitidos, os treinadores menos contestados, os jogadores menos idolatrados...

Hoje, a tendência é para que sejam seguidos, inocentemente, modelos que a televisão potencia. Com o objectivo de vender o produto (ou de se viver à custa dele...), releva-se o indivíduo em vez de se valorizar o colectivo; o treinador passou a ser o elo mais desprotegido de uma imensa cadeia de interesses - ele é o burro, o gajo que nunca acerta, apesar de ser ele quem trabalha todos os dias com os seus jogadores e de ter formação para exercer as suas responsabilidades -; os erros de arbitragem sobrepõem-se à apreciação crítica sobre o jogo; a ética está subjugada à obsessão do sucesso...

Esta "cultura" imposta pelo mundo adulto é apreendida pelos jovens praticantes. Hoje mais difíceis de satisfazer e mais exigentes, permanentemente atordoados com múltiplas iniciativas e oportunidades.

Os tempos são diferentes e os jovens de hoje igualmente diferentes. No meu tempo é que era? Errado! Naquele tempo, a ausência do futebol não era compensada com outras actividades e praticá-lo significava estatuto e uma oportunidade; hoje, quem não quiser o futebol tem muito com que se entreter e onde se perder.

Numa sociedade mais egocêntrica, ter tanta gente a praticar uma modalidade colectiva enquanto cresce numa lógica de individualismo, demonstra que este tempo, sendo bem diferente, também é!  

Em definitivo, uma equipa!

Augusto Semedo, 29.01.08

Chegara semana e meia antes ao comando da equipa. Que perdera os três jogos mais recentes, afundando-se na classificação. Era agora a última e tinha os adversários mais directos a quatro e a sete pontos de distância.

O primeiro jogo correra bem: 3-0 ao Torreense. O ambiente desanuviara e a confiança fortalecera-se.

Seguia-se Peniche. No mínimo, não poderíamos perder, de contrário a desvantagem aumentava e tornava-se praticamente irrecuperável.

Na antevéspera dessa deslocação, após o almoço, um director questionou-me se tudo estava bem. Respondi que não podia estar melhor. - Então prepara-te. Logo vais ter uma surpresa!

Quis saber o motivo mas não me foi revelado. Soube-o mais tarde, antes do treino dessa sexta-feira. Outros dirigentes, que não o que me alertara apenas parcialmente, cumpriam a promessa de pagar um mês aos jogadores... com dois meses de atraso!

A boa nova, porém, trazia uma surpresa desagradável, qual presente envenenado: a uns, a maioria, o pagamento era total; a alguns, principalmente aos avançados, apenas metade!

Não tardou, os jogadores discutiam entre si. Dentro do balneário, cá fora; uns revoltados, outros mais satisfeitos. Vi tudo ir por água abaixo!

Reuni então os jogadores no balneário. Recordei-lhes o que dissera no dia da minha apresentação, quando o dirigente responsável pelo pagamento abandonou o balneário no preciso momento em que entrei nele: "Temos 23 jogadores, todos são necessários para podermos atingir os nossos objectivos e todos serão tratados por igual!"

O presidente estava hospitalizado, sujeitando-se a ligeira intervenção cirúrgica. Prometi à equipa a resolução do problema no início da semana seguinte ao jogo de Peniche. "Se todos são iguais, todos vão receber por inteiro. Se não o fizerem, vou-me embora e direi publicamente porque o faço!" Mas, avisei: "Quero ir para a reunião de peito feito e mostrar orgulho no esforço que vocês vão dar mostras no jogo de domingo!"

Assim foi. Nessa sexta-feira, como no sábado de manhã, os treinos correram tão bem como os anteriores. Com espírito, entrega e vontade de dar a volta à situação. No domingo, empatámos 2-2. Dificilmente. Com menos um homem durante mais de meia hora. Demos o corpo ao manifesto! Mantivemos a desvantagem pontual, recuperando-a depois nas 14 jornadas restantes. E o Peniche foi um dos quatro adversários que lográmos ultrapassar para evitar a descida que muitos dariam como certa.

Reunimos, como o prometido, na terça-feira seguinte. A situação ficou regularizada 12 horas depois. Ganhara, em definitivo, uma equipa!

O mesmo dirigente responsável pelo pagamento naquele dia, que fora à caça no dia da minha estreia oficial à frente da equipa, que faltara à maioria dos jogos e às suas responsabilidades durante o período de reabilitação a que se assistiu, que me ignorara tantas vezes... esse mesmo dirigente, abraçou-me quando, terminado o último jogo do campeonato, garantimos sofrida e brilhantemente a permanência na 2ª divisão nacional.

Desafios de um jogo

Augusto Semedo, 27.12.07

Esta não é uma história perfeita. Dificilmente será a história sonhada na infância. Mas é uma história real! Como todas elas, feita de momentos altos e de outros que nos ajudam a crescer ainda mais, a ver hoje o Mundo diferente, a ser agora melhores Cidadãos.

O futebol - este mundo que junta à volta de objectivos comuns tantas personalidades peculiares e tão diversas maneiras de interpretar os infindáveis acontecimentos que o rodeia -, tem, como poucas realidades, esse poder. É uma verdadeira escola para a vida!
Recheado de momentos mágicos e outros de desencanto, momentos de comunhão mas também de desencontros. Promove sentimentos diversos e mesmo contraditórios. É exigente nas rotinas diárias, na competição, nas relações interpessoais! Desperta competências adormecidas, estimula no desportista qualidades morais e manifestações de vontade que o cidadão pode aproveitar para a vida – na sua vivência familiar, profissional e comunitária.
O jogador a quem me dirijo neste escrito assinou o seu percurso futebolístico porque foi capaz de reunir um conjunto de pressupostos nucleares ao crescimento e ao rendimento de um atleta, potenciadores de competências necessárias à boa prática do jogo:
Sentir o que faz! = identificação com o jogo, com a equipa, com o clube…
Gostar do que faz! = prazer, dedicação, empenhamento…
Concretizar o que faz! = vontade, superação… capacidade de trabalho!
Saber estar! = boa relação com colegas e respeito pelas normas e regras de grupo, contribuindo para um bom ambiente e espírito de equipa.
O jogo nunca foi um problema mas uma oportunidade. Os desafios, momentos de afirmação pessoal e da equipa!
Há posturas e atitudes que ficam especialmente guardadas nas recordações do nosso percurso. Ainda hoje, aos atletas mais novos que procuramos orientar para o futebol e para a vida, há exemplos evidenciados.
Um deles é o dele, já júnior. Conto aos mais novos o que a ele era exigido para vir treinar e recolher de imediato ao colégio, onde era aluno interno, antes da hora estabelecida para o fazer. Que a mãe o ia buscar ao estádio, com o jantar na marmita, para ele poder comer enquanto o conduzia. Ele não faltava, não pedia para sair mais cedo, não deixava de dar o seu melhor. Limitava-se a cumprir como todos os outros, não alimentando excepções, ajustando-se à realidade e às regras estabelecidas.
Este exemplo ajuda a compreender porque cresceu ele tanto nas últimas etapas da sua formação – e depois, já sénior, porque confirmou e desenvolveu novas competências, chegando onde muitos outros poderiam e/ou desejariam.
A vida continua. Renovam-se projectos. Esta é também uma história incompleta…
excertos do prefácio para o livro de um amigo

A Liga Intercalar

Augusto Semedo, 29.11.07

Ora aqui está uma medida oportuna, que defende o futebol, as equipas e os jogadores. Porque permite que os jogadores menos utilizados não percam ritmo competitivo e os que abandonem períodos forçados de inactividade o recuperem mais rapidamente; porque permite diminuir tensões no interior dos planteis e dar visibilidade a um maior número de jogadores; porque permite defender e dar oportunidade a jogadores mais jovens, muitos deles tapados nos seus primeiros passos como seniores, contribuindo para o complemento da sua formação a um nível competitivo superior ao encontrado nas categorias inferiores.

A Liga Intercalar reedita os defuntos campeonatos de reservas ou torneios de início e de encerramento de época. Que terminaram há muito, fruto de uma decisão muito mais administrativa que técnica. Competições como esta sobrecarregam os clubes com mais jogos oficiais mas permitem aos mesmos rentabilizar os seus activos. Por isso, é redutor atribuir-se a utilidade destas provas ao cumprimento de castigos federativos, como acontecia dantes.

Tive oportunidade, como treinador de juniores e adjunto de seniores, de fazer campeonatos de reservas durante cinco épocas consecutivas. Final dos anos 80, princípios de 90. Não tenho dúvidas em afirmar que parte do sucesso dos trabalhos então realizados, que permitiram a afirmação de novos valores no futebol local, deveu-se à oportunidade de competir oficialmente a meio da semana. 

Deixem-me sublinhar que esta novel Liga Intercalar é uma das (poucas) decisões recentes com evidente impacto na área técnica do futebol. Devia encontrar seguidores noutras regiões e associações de futebol do país, no interesse do futebol e do jogador português. 

A vitória ou a superação?

Augusto Semedo, 15.11.07
Os pais que assistiam ao jogo na bancada achavam piada ao facto do treinador continuar a insistir para que a sua equipa não perdesse a concentração e capacidade competitiva, mesmo estando a ganhar por uma diferença tão significativa. A alegria por verem a equipa dos seus filhos (ainda em processo de formação) ganhar amplamente ofuscava a exigência que o treinador mantinha até ao final da competição.
O que faz, afinal, evoluir um atleta? As vitórias e os títulos de campeão? Ou a superação, encarando com total disponibilidade as sessões de treino e os jogos?
As vitórias são motivadoras e enchem o ego de quem as consegue. São importantes, porque estimulam; mas podem ser inconsequentes, no futuro do atleta, se não encontrarem suporte no trabalho desenvolvido e numa atitude que privilegie a vontade de fazer cada vez melhor.
Um atleta pode ganhar a um adversário de menor capacidade sem para isso ter necessidade de estimular todas as suas competências; e pode perder contra um adversário que lhe é superior, mesmo aplicando-se totalmente para evitar tal desfecho.
No segundo caso, apesar do resultado negativo, o atleta superou-se e adquiriu competências; no primeiro, o atleta venceu mas desperdiçou mais uma oportunidade para evoluir.
Superar é ir à procura de fazer cada vez melhor, dando respostas ainda mais capazes perante os diferentes desafios que a competição coloca permanentemente.
Se todos os dias, em treinos e jogos, o atleta procurar ultrapassar os seus próprios limites, em situações competitivas diversas, tentando vencer as suas próprias capacidades, estará no caminho certo.
Esta atitude exige atributos morais e manifestações de vontade tão (ou mais) essenciais ao percurso futuro do atleta como o seu potencial físico ou técnico-táctico.
Não por acaso, conhecem-se casos de atletas que se afirmam precocemente (à frente de todos os outros), admitindo-se de imediato um enorme sucesso; para mais tarde não confirmarem as expectativas – e serem até ultrapassados por alguns dos que, revelando superior capacidade de trabalho e adequada atitude mental, não perspectivavam antes carreira tão auspiciosa mas souberam potenciar melhor os seus recursos.
Daí, os resultados não deverem ser o único, nem sequer o mais importante, parâmetro de avaliação da acção de um treinador e do potencial de um atleta. Muito menos nos escalões de formação. Fazer compreender isto à sociedade actual, principalmente a pais e dirigentes, será tarefa possível?
Haverá sempre necessidade de definir metas para a competição - realistas e sempre na sequência do trabalho efectuado - que nem sempre passam pela vitória mas por objectivos de performance que ajudem a aferir a evolução conseguida.

Fazer fintas e marcar penaltis!

Augusto Semedo, 31.10.07

Um treinador de futebol tem-me dito com frequência que os seus jogadores, a determinado momento nos treinos, pedem-lhe para “fazer fintas e marcar penaltis”. Perante a incredulidade do treinador, que sempre se habituou ao rigor e à exigência enquanto jogador, disseram-lhe que eram correspondidos a idêntico apelo nas épocas anteriores.

O treinador explica-lhes porque não se deve valorizar as fintas quando o jogo é colectivo; que,antes das fintas e dos penaltis, o passe e a recepção da bola (muitos apresentam ainda carências gritantes...), a mobilidade e os restantes princípios (de ataque mas também de defesa, que nem sabiam existir!) do jogo são mais urgentes e determinantes…

A criação de maus hábitos, e a dificuldade em aceitar modelos que privilegiem o método, é hoje mais fácil acontecer que no passado. E começar cedo na prática de um jogo só significa vantagem se o processo formativo for protagonizado por agentes competentes, ajudando na compreensão e na execução correcta das acções individuais e colectivas necessárias.

Os jovens praticantes crescem influenciados pelas fintas dos Quaresmas e dos Ronaldos, a que acresce a ausência de pedagogia na exposição pública de um jogo que é consumido (na base da clubite e da individualização) mas não apreciado (na sua essência técnico-táctica).

Assim, ao mesmo tempo que se constroem infra-estruturas e que cresce o número de praticantes, destrói-se a autoridade técnica e diminui a capacidade de entendimento e de interpretação à volta do jogo.

Realidades do futebol

Augusto Semedo, 24.10.07

Eixense - O clube pode significar pouco para a maioria mas a actividade que gera é um testemunho vivo de realidades subestimadas que têm enorme mérito. Há alguns anos, passou a apostar apenas nos escalões de formação e, mais recentemente, herdou um relvado que lhe suga hoje os parcos recursos disponíveis; mas tem sabido elevar os níveis de qualidade no que respeita ao trabalho desenvolvido. Apresenta-se bem organizado e muito melhor equipado. Conta com condições de reabilitação de fazer inveja a clubes de maior dimensão e uma estrutura de apoio bem equipada. Projecta alargar o espaço destinado ao trabalho de campo. Este clube é hoje mais um exemplo de que há realidades escondidas e desvalorizadas mas com enorme alcance desportivo e social. Afinal, o futebol, neste país como noutros, está longe de se limitar às acções mediatizadas e continua a depender de múltiplos exemplos simples, generosos e corajosos como este. Que merecem dispor de muito mais apoio do que aquele que têm efectivamente tido!

Tiago Moura - Lamento ver mais um atleta com futuro a desinteressar-se e a desistir. O percurso académico pode ser compatível com uma carreira desportiva e há por aí muitos exemplos que o atesta. O futebol - face às exigências diárias com os treinos e a competição, desproporcionais na maioria dos casos às condições oferecidas e à ausência de perspectivas sólidas -, não dará hoje a motivação de há década e meia. Por isso, e porque os jovens de hoje querem que tudo aconteça demasiado rápido (têm crescido numa sociedade que os vem educando assim...), a desmotivação supera a atitude combativa de outrora. Para que essa atitude prevalecesse seria necessário acreditar-se no que se faz e no que nos envolve, sentindo ainda que os outros acreditam em nós. Como eu compreendo o Tiago...   

Será para afastar (ainda mais...) o público dos jogos?

Augusto Semedo, 22.10.07

Anadia tem um sintético para futebol de 11 integrado naquele excelente complexo desportivo, erguido nos últimos 15 anos. Quando lá vou lembro-me da época em que treinei o Anadia, que coincidiu com a construção do estádio, num local ermo, aparentemente afastado da então vila, sem qualquer acesso digno desse nome. Hoje, concentra uma série de equipamentos (não só desportivos...) de boa qualidade.

Um reparo, porém, devo fazer. À volta do sintético para futebol de 11, foi colocada uma enorme rede que separa o relvado (a precisar de borracha...) do público que assiste aos jogos. Que o campo tenha de ser vedado é evidente; mas que tal vedação (em rede e alta) condicione a observação do jogo que se pretende apreciar não tem pés nem cabeça.

Afinal, o que pretendem? Afastar o público dos jogos de futebol? Tratando-se de espaços desportivos recentes não fará sentido criarem-se condições também para quem quer ver os jogos? Ou na lógica de quem arquitecta estes espaços deve haver jogo sem espectadores?

Assim como está, aquele espaço contribui para um afastamento ainda mais acentuado das pessoas, mesmo aquelas que por responsabilidade ou por laços afectivos se sentem na obrigação e têm o gosto de marcar presença durante a competição.