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d'aquém e d'além

COISAS E COISINHAS DO NOSSO MUNDO augusto semedo

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COISAS E COISINHAS DO NOSSO MUNDO augusto semedo

QUE RUMO?

Augusto Semedo, 07.01.09

Na comemoração do centenário da inauguração da Linha do Vale do Vouga faz todo o sentido questionar o abandono a que esta tem estado sujeita; já depois de se ter cometido o erro, irreparável, de suprimir o troço entre Viseu e Sernada do Vouga.

Outros teriam feito talvez o aproveitamento turístico se as estratégias não andassem sempre desfasadas do tempo e se não fossem marcadas pela visão egoísta dos grandes centros. Visão essa limitadora se se atender à virtualidade verdadeiramente distintiva que Portugal tem para oferecer face à concorrência de outros países com maior peso turístico: a diversidade em tão curto espaço geográfico.
No ano em que foram revelados números que confirmam o aumento de passageiros na linha, importa questionar: se o aumento é uma realidade com as condições oferecidas, caso houvesse investimento marcante (tendo em vista o conforto dos passageiros, horários mais ajustados e diversificados e menores custos de exploração) até onde poderia ir a reaproximação dos cidadãos desta região com o comboio?
De acordo com o estudo de viabilidade do metro de superfície, encomendado na primeira metade dos anos 90 pelas câmaras de Aveiro e Águeda, a extensão da linha pelo centro urbano da capital de distrito e por Ílhavo, até às praias, representava uma certeza para os resultados de exploração e uma mais-valia evidente para a mobilidade dos cidadãos de uma comunidade que envolve directamente 150 mil pessoas.
Ao invés, o que se verifica hoje, é que o maior investimento público concretizado na Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro – a ligação ferroviária ao Porto de Aveiro - não servirá passageiros, apenas mercadorias. Haverá certamente razões técnicas para tal, ou então continuamos a dar-nos ao luxo de não potenciar infra-estruturas pensadas e executadas recentemente.
Para cúmulo, face ao eixo Águeda – Aveiro – Ílhavo (praias), muito utilizado especialmente durante o Verão, verifica-se total descoordenação entre comboio e autocarro, sem informação afixada e sem paragem certa junto à estação de Aveiro, num total desrespeito pelos cidadãos que procuram utilizar os dois meios de transporte.
Exige-se uma atitude diferente das instituições e das empresas para com os cidadãos que utilizam os transportes públicos, neste país de auto-estradas tendencialmente com custos para o utilizador e incapaz de oferecer alternativas válidas e verdadeiramente úteis aos tempos modernos. Ao Estado e a todas as instituições públicas competentes exige-se a criação de condições para que nenhum cidadão se sinta excluído e possa verdadeiramente optar pelo meio de transporte que mais lhe convenha.

Região de Águeda, 10 anos: O caminho que Águeda procura no novo Mundo da tecnologia

Augusto Semedo, 10.11.08

 

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Quando, há 10 anos, fizemos questão de incluir o endereço de correio electrónico junto aos contactos do jornal, era dado um cunho de modernidade ao projecto que nascia. Apesar de, na altura, não se saber ainda muito bem para que iria servir e que resultados teria. O telefax, novidade surgida menos de 10 anos antes, era então o principal meio de comunicação para proceder ao envio de informação escrita; o telemóvel ameaçava concorrer com o telefone fixo e a Internet era algo inacessível (e ainda mal compreendida) pela maioria.
Não faz muitos anos que os jornalistas do Região de Águeda se esforçavam por justificar a vantagem de usar correio electrónico a um vereador, tornando mais fácil a comunicação entre a autarquia e o jornal. Hoje, nem meia dúzia de anos depois, tal facto poderá parecer ridículo; mas só a quem não tem dado conta da rapidez a que se dão estas transformações.
Na verdade, o correio electrónico não originava mais que duas ou três mensagens diárias, sendo hoje absolutamente imprescindível (são recebidas às centenas, todos os dias!); como o uso do telemóvel, que há 10 anos alguns se recusariam a utilizar, se apresenta agora como inevitável no relacionamento interpessoal e profissional.
As novas tecnologias mudaram definitivamente a forma de comunicar – é mais fácil, mais prático e está ao alcance de quase todos -, transformando também o nosso quotidiano. Tornaram-no mais veloz e frenético, dinâmico e também mais exigente. Os jornais são exemplo eloquente: têm acesso a mais conteúdos, diversificados, a qualquer hora e até ao limite.
A Internet facilitou o acesso à informação e alterou a vida em comunidade, como antes acontecera com a televisão. Os sítios, os blogues e as comunidades virtuais impõem uma realidade muito diferente da que tínhamos em 1998. A adaptação exige evolução. É assim também com os órgãos de informação tradicionais, que deixaram de ser a voz única na relação com os cidadãos mas a quem, perante o “mercado de ideias” que prolifera, continua a caber a missão de fazer jornalismo com justiça e equilíbrio.
 
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Se as novas tecnologias mudaram totalmente os nossos hábitos, há porém realidades que parecem imutáveis. A Pateira e o aproveitamento hídrico dos cursos de água, o metro de superfície e a criação de uma rede de transportes públicos, as ligações de Águeda à auto-estrada e aos principais centros urbanos, o reforço intermunicipal de Aveiro e a efectiva ruptura com práticas egocêntricas do passado… são apenas alguns exemplos.
Percorrer a Linha do Vouga numa qualquer composição é ter a ideia de que o preconizado desenvolvimento anda a velocidades diferentes. Que há um mundo fixado na globalização e outro que vive apenas para sobreviver. Que há gente perdida em luxos e mordomias e outra perigosamente condenada à exclusão.
A Linha do Vouga é o testemunho ainda vivo de que há comunidades sujeitas à estagnação. Como aquela à beira Douro: os habitantes, nas deslocações para a consulta médica, pagam mais ao taxista que os transporta da aldeia até à estação mais próxima do que pelo bilhete de comboio desta até à cidade. Apenas porque alguém, no conforto do seu gabinete e baseado em números, decidiu que o comboio não mais efectuava paragem no apeadeiro daquela terra.
 
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Saber que Águeda tem recursos para poder apostar em energias alternativas é recuar ao tempo da elaboração do PDM – que era e é muito mais do que saber se neste ou naquele terreno se pode construir ou não – e ter a consciência de que o concelho podia ter sido o pioneiro no aproveitamento da água, do vento e dos resíduos florestais. Nem o foi, nem tão pouco soube recuperar ainda algum do tempo desperdiçado. Sobram as discussões estéreis e inúteis…
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Lutar por ligações condignas aos grandes centros urbanos não significa aceitar que nos venham dar um presente envenenado – uma auto-estrada com portagens – quando o que se desejava seria a construção de uma variante segura, assegurando a fluidez de trânsito e o acesso gratuito a todos os cidadãos. Muito menos é ter de aceitar que convertam numa via portajada uma obra concluída já este século, com o objectivo (de décadas) de retirar o trânsito do centro de Águeda. Tal decisão – de transformar a variante de Águeda numa auto-estrada com portagens - conduzirá inevitavelmente a um regresso ao passado, com aumento de tráfego nas vias urbanas da cidade. O futuro não pode nem deve ser construído a qualquer custo e há exemplos de sobra que o atesta: as obras desproporcionadas construídas nos anos dourados, com custos altíssimos e de duvidoso benefício para as populações!
 
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Águeda procura ainda um caminho para recuperar pelo menos algum do espaço que foi perdendo desde que a adesão à Comunidade Europeia abriu Portugal a outros mercados; e adaptar-se, a exemplo de outras comunidades, a um contexto que facilita a concentração do poder económico.
A capacidade empreendedora que se lhe reconhecia está bem expressa hoje num conjunto de empresas de referência, implantadas em vários sectores de actividade. Mas também nas respostas sociais, que tem sido capaz de reforçar através das instituições locais, e ainda no espírito associativo, que mantém em actividade práticas diversificadas e complementares. Umas em decadência, outras porém em crescendo – o que é normal acontecer. Mais difícil é criar um espírito unificador, capaz de fortalecer trabalhos válidos que surgem isoladamente, e aproveitar os bons exemplos para dar corpo e vida a Águeda.
A evolução da Escola Superior de Tecnologia e Gestão indiciaria vantagens se Águeda fosse suficientemente atractiva para captar talentos. Porém, o futuro depende de uma visão estratégica que deve ser consolidada com o contributo efectivo das várias forças vivas e não tanto por imposição desta pessoa ou daquele partido. Pelo contrário, perigoso é o que se tem assistido: à demissão cívica dos cidadãos na abordagem a causas colectivas e ao apagamento progressivo dos partidos políticos, submergidos em arquitecturas de persuasão que fraccionam.

Novas auto-estradas: Águeda e as populações ficam a ganhar?

Augusto Semedo, 29.10.08

Anda por aí grande alvoroço com o estudo prévio da nova auto-estrada, que substituirá o actual IC2.

Queríamos todos, e justificadamente, uma ligação menos penosa a Coimbra e à A1 quando nos dão uma nova auto-estrada. A bem feitoria seria bem recebida se não houvesse lugar ao pagamento de portagens.

Afinal de contas, uma variante ao actual IC2 - sem entradas particulares nem cruzamentos, sem semáforos nem rotundas, e sem limites de velocidade, em alguns casos ridículos - seria suficiente. Mas o Estado vai dar-nos três auto-estradas praticamente paralelas, embora com custos para o utilizador.

É caso para perguntar, porque é legítimo fazê-lo: Águeda e as populações vão ficar a ganhar?

Águeda vai deixar de ter variante, aquela que reclamou há décadas e que viu ser satisfeita já neste século. Por essa Europa fora, o trânsito foi desviado do centro urbano das cidades com a construção de variantes; mas, pelos vistos, vai haver uma inversão completa e o ilógico irá prevalecer. A menos que o troço próximo da cidade fique isento do pagamento de portagens (o que acontece, por exemplo, com a A8 nas Caldas da Raínha e em Óbidos). Caso não aconteça, quem não quiser, ou não puder, pagar portagens passará a transitar de novo pelo centro urbano de Águeda. Será isto evolução? Será Águeda, de facto, beneficada pela nova auto-estrada? Afinal, queríamos tão só uma ligação mais rápida, liberta de estrangulamentos, em direcção a Coimbra!

Mais a Norte, a situação de Mourisca do Vouga parece ser ainda mais preocupante: se a nova auto-estrada for portajada e caso seja duplicado o actual IC2 por onde passará o trânsito que não circular pela nova via? Pelo centro da Mourisca? Por aquela estrada que já hoje não tem largura suficiente para o volume de tráfego que por ali circula? Será que resulta em benefício da população local? Ou, por outro lado, serão salvaguardados corredores alternativos, contra o interesse da empresa que irá explorar a auto-estrada? E quem os pagará? O Estado ou as autarquias locais?

Há questões que deveriam ser respondidas quanto antes e preocupações que deveriam ser assumidas pelos cidadãos - que serão, no futuro, as principais vítimas de uma política que irá contribuir para a exclusão de grande parte da população. Num país - tenha-se isso em conta - onde muitos vivem no limiar da pobreza e que não tem um serviço público de transportes eficaz que sirva de alternativa.

Já agora: Partindo do princípio de que os nós de uma auto-estrada não podem ficar próximos uns dos outros, onde irá a população local aceder ao novo IC2?

Verdades e mentiras

Augusto Semedo, 22.10.08

O PIDDAC é um instrumento de verdade ou de mentira? Reflectirá as intenções de investimento do Estado ou não? A confusão está de novo instalada nesta comunidade guerrilheira, disposta a dirimir argumentos em favor das conveniências político-partidárias.

A verdade do PIDDAC é que não há dinheiro para a ambição de fazer obra. Outra verdade é que quando houve, as prioridades terão sido tantas que algumas foram ignoradas em favor das comunidades mais expeditas.
A mentira do PIDDAC é que os políticos vão dizendo que sim a tudo, vão alimentando as ambições das comunidades com promessas de obra futura, que na maioria das vezes se fica pelas intenções. Daí que haja prioridades de décadas: crescemos e vivemos com elas sem que algum dia sejam realizadas.
A verdade é que todos se sentem felizes com obras. Megalómanas ou não, prioritárias ou não. É preciso fazer obras, inaugurar obras… nem que a seguir não se saiba como mantê-las, se assista à sua degradação acelerada.
A mentira é que há obras que não se convertem em mais-valias evidentes. Veja-se, para se falar num caso nacional, o exemplo das SCUT. Sem dinheiro para as construir, o Estado fez parcerias público-privadas e agora não tem dinheiro para as manter. No futuro, as variantes reclamadas por localidades massacradas pelo trânsito passarão a ser auto-estradas com custos para o utilizador; e as antigas estradas nacionais estarão convertidas em vias onde será insuportável transitar.
A verdade é que a mentira entra nos bolsos de cidadãos que ganham mal e passarão a pagar as estradas mais caras da Europa. A verdade é que gostaria, como aguedense, de ter bons acessos aos principais centros urbanos; a mentira é que me estão a impor um futuro oneroso, inacessível a todos aqueles que não conseguirem acompanhar o ritmo do TGV e que se sentirão excluídos num país cada vez mais desigual – que ainda circula, e circulará para todo o sempre, em automotoras rudimentares e em carris mal conservados.     
A verdade é que os políticos passam a vida a vender-nos ilusões, com promessa de obra nova para a qual não há dinheiro; e a verdade é que o povo gosta de viver na ilusão e rejeita a maçada de ter uma postura de reflexão sobre a realidade que o envolve. O resultado desta verdade é que o povo tem os representantes que merece mas será a vítima maior!

Águeda nossa (3) - A água, os Planos e a vontade política

Augusto Semedo, 09.10.08

Os munícipes de Belazaima, Falgarosa e Falgoselhe, lugares serranos do concelho de Águeda, não vão pagar a tarifa da água devido à sua má qualidade: apresenta-se turva, com riscos para electrodomésticos, a roupa ou as tubagens do sistema de distribuição.

A medida municipal destina-se a um universo de 234 consumidores mas apenas 150 têm água ao domicílio.

Os problemas no abastecimento têm sido pontuais: porque o ano é de seca, por ruptura do sistema ou por problemas resultantes de cinzas ou lamas provocadas por incêndios ou enxurradas.

São, porém, cada vez mais gravosos e frequentes, num concelho com recursos hídricos.

Na primeira metade da década de 90, o PDM - Plano Director Municipal - exortava Águeda a aproveitar os seus recursos para consumo próprio e para vender a concelhos vizinhos - que, antecipava o documento, iriam sentir escassez de água e não possuíam os mesmos recursos hídricos.

Pouco ou nada seria feito nessa área e o sistema actual é complexo, antigo e apresenta falhas. É caso para perguntar, mais de 15 anos passados, para que servem os Planos (obrigatórios neste caso...) se a vontade política tem sido estimulada por outro tipo de orientações e se as decisões procuram objectivos de curto prazo, condicionadas por eleições de quatro em quatro anos.

Águeda nossa (2) - O IMI e as tecnologias

Augusto Semedo, 09.10.08

O Imposto Municipal sobre Imóveis foi 'chumbado' na Assembleia Municipal. A maioria PSD (graças aos presidentes de Junta que engrossam a bancada deste partido, pela primeira vez em minoria no executivo camarário) em pouquíssimas ocasiões tem feito prevalecer a sua força neste órgão.

A novidade, agora, é que o presidente da Câmara se vem queixar de que o líder da concelhia social-democrata enviou mensagens por telemóvel, em plena sessão da AM, para que os presidentes de Junta votassem contra a proposta da maioria socialista no executivo municipal.

É caso para dizer que a tecnologia se virou contra um autarca que se tem assumido com vanguardista nesta área.

Mais a sério, é caso para dizer que vem aí um ano turbulento entre os dois partidos, ou não fossem os resultados eleitorais a razão principal da actuação dos partidos na democracia de um Portugal de pensamento único, incapaz de discutir ideias e de ter verdadeiramente um projecto de desenvolvimento em resultado de contributos diversos. 

Águeda nossa (1) - Hugo São Bento Pereira

Augusto Semedo, 09.10.08

O jornal Região de Águeda apresenta, esta semana, uma entrevista com um jovem de 23 anos que, após ter prestado várias provas, preside à AIESEC Portugal. Trata-se da maior organização a nível mundial gerida por estudantes do ensino superior, ou ex-licenciados, presente em 800 universidades e mais de 100 países.

Trata-se de uma oportunidade fantástica, propiciadora de contactos e de experiências capazes de darem uma visão global do nosso mundo e de, assim, potenciarem competências com impacto positivo na sociedade.

Para quem não esqueceu o envolvimento do Hugo no ténis de mesa, durante a adolescência, e a sua passagem, ainda que tímida, pelo futebol, não deixa de reparar no seu rápido crescimento e nos seus fortes atributos como potencial líder. Um orgulho! E a constatação de que, para se ter um trajecto de referência, é preciso querer-se, ter uma atitude de permanente reflexão sobre o que nos rodeia e oferecer à sociedade a sua mais valia intelectual e profissional. Muita sorte...

...E o santo terá perdoado?

Augusto Semedo, 14.08.08

A emoção ainda toma conta de quem viveu a gloriosa jornada de Peniche, em 5 de Junho de 1983. Principalmente daqueles que conheceram a realidade reluzente de um clube em processo de afirmação, de direcções empenhadas e responsáveis, de estruturas competentes e dinâmicas e de uma comunidade que se revia nas façanhas de um seu embaixador.

Foi há 25 anos! O momento que procuramos recordar traduz muito mais que o simples sucesso desportivo.

Seguem-se neste blog quatro peças de um mesmo texto, intitulado "...E o santo terá perdodado?", publicado na edição de 15 de Agosto de 2008 no jornal Região de Águeda (páginas 24 e 25)

...E o santo terá perdoado? (IV) - O carnaval da subida

Augusto Semedo, 14.08.08

A imensa caravana ague­dense seria fustigada por um tão inesperado quanto intenso temporal. No supermercado local, perto do velhíssimo campo do Baluarte, o plástico esgotou. E, se mais houvesse, esgotava na mesma. Serviu para proteger o corpo das fortes chuvadas da tarde.

Nem isso esfriou a euforia de quem queria participar naquele histórico momento, não importando se o corpo estava seco ou molhado.

O jogo foi correndo de feição e a subida do Recreio nunca esteve verdadeiramente em perigo. A poucos minutos do final, um conhecido aguedense olhava para o relógio e dizia no seu jeito característico: “Faltam 10 minutos para ver o meu Sporting em Águeda!”

No final, imediato à conversão do penalti do 5-2, deu-se a invasão pacífica do velho e encharcado “pelado”. Seguiram-se as habituais cenas de triunfo, o champanhe por entre lágrimas de alegria e a certeza de que Águeda, finalmente, estava no escalão máximo do futebol português.

O regresso foi lindo. Perfeito. O “carnaval” aguedense foi vitoriado pelos adversários. Primeiro, em Peniche: - “Vamos assistir à festa, o Águeda merece!”, dizia um habitante local. Depois, no regresso a Águeda.

Entre Peniche e as Caldas, vários populares, ao lado da estrada, associaram-se à imensa alegria aguedense. Nas Caldas, o clube local fazia a festa de subida da III à II divisão e as duas caravanas irmanaram-se durante vários minutos. Em Alcobaça (o Ginásio local descera da I à II divisão nacional) foi difícil passar em frente ao Mosteiro. A multidão, que aguardava com bandeiras gigantes do seu clube, queria bandeiras e cachecóis, apertando a caravana aguedense...

E até em Coimbra, por onde obrigatoriamente se tinha de transitar na ausência de alternativas viárias. Havia receio de que os “académicos” arranjassem problemas e os adereços foram arrumados por momentos. Seriam, porém, os adeptos do União, velhos rivais do “clube dos doutores”, a saudar vibrantemente, junto à Estação Velha, cada viatura identificada com as cores do Recreio.

 

A multidão junto à ponte

 

Já em Águeda, a dificuldade foi entrar pela única ponte então existente, que servia a principal estrada nacional do país e por onde passava todo o trânsito automóvel entre Porto e Lisboa.

Formaram-se longas filas de veículos e a multidão foi-se juntando na Praça da República, esperando ansiosamente os heróis da subida. Os jogadores regressaram já passava da meia noite, depois de um jantar no restaurante... S. Sebastião, em Pombal.

A festa arrastou-se pela noite fora, com o arraial das festas de S. Sebastião (realizada nesse ano nos terrenos onde hoje se situa o Centro Comercial Diana) a ajudar. Os sinais da euforia eram bem visíveis por todo o lado, até porque os jogadores se misturaram com os adeptos, celebrando nas ruas de Águeda.

...E o santo terá perdodado? (III) - Levar o ouro para Peniche

Augusto Semedo, 14.08.08

Águeda ficou efectivamente deserta. Depois das 7 da manhã, hora da concentração dos vários grupos (… e eram tantos distribuídos por 22 autocarros!) em zonas distintas da então vila. E também um pouco por todo o concelho. Todos queriam viver de perto aquele dia de glória.

Tanto assim que muitos aguedenses levaram todo o ouro, e outros valores, que possuíam nas suas habitações. Receavam que ladrões profissionais aproveitassem a ausência generalizada para actuar.

Águeda foi muito bem recebida em Peniche. Até à jornada final, a “guerra de comunicados” entre as direcções do Recreio e do Académico de Coimbra, que encheram páginas nos jornais desportivos nacionais, foi benéfica para a imagem e a afirmação popular do clube aguedense.

Daí que Peniche represente bem mais que o jogo da subida para quem teve a oportunidade de testemunhar o carinho com que vilas e cidades receberam a caravana proveniente de Águeda.

Nas Caldas da Rainha, por exemplo, um sócio do Recreio que ia a caminho de Peniche abeirou-se de um cidadão local que lia um jornal desportivo e perguntou-lhe onde podia comprá-lo. O leitor fitou-o, reflectiu e perguntou: - “O senhor é de Águeda?”. Perante a resposta afirmativa, e num gesto brusco e inesperado, entregou ao aguedense o jornal que possuía: - “Tome lá, e boa sorte para o jogo!”