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d'aquém e d'além

COISAS E COISINHAS DO NOSSO MUNDO augusto semedo

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COISAS E COISINHAS DO NOSSO MUNDO augusto semedo

Região de Águeda, 10 anos: O caminho que Águeda procura no novo Mundo da tecnologia

Augusto Semedo, 10.11.08

 

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Quando, há 10 anos, fizemos questão de incluir o endereço de correio electrónico junto aos contactos do jornal, era dado um cunho de modernidade ao projecto que nascia. Apesar de, na altura, não se saber ainda muito bem para que iria servir e que resultados teria. O telefax, novidade surgida menos de 10 anos antes, era então o principal meio de comunicação para proceder ao envio de informação escrita; o telemóvel ameaçava concorrer com o telefone fixo e a Internet era algo inacessível (e ainda mal compreendida) pela maioria.
Não faz muitos anos que os jornalistas do Região de Águeda se esforçavam por justificar a vantagem de usar correio electrónico a um vereador, tornando mais fácil a comunicação entre a autarquia e o jornal. Hoje, nem meia dúzia de anos depois, tal facto poderá parecer ridículo; mas só a quem não tem dado conta da rapidez a que se dão estas transformações.
Na verdade, o correio electrónico não originava mais que duas ou três mensagens diárias, sendo hoje absolutamente imprescindível (são recebidas às centenas, todos os dias!); como o uso do telemóvel, que há 10 anos alguns se recusariam a utilizar, se apresenta agora como inevitável no relacionamento interpessoal e profissional.
As novas tecnologias mudaram definitivamente a forma de comunicar – é mais fácil, mais prático e está ao alcance de quase todos -, transformando também o nosso quotidiano. Tornaram-no mais veloz e frenético, dinâmico e também mais exigente. Os jornais são exemplo eloquente: têm acesso a mais conteúdos, diversificados, a qualquer hora e até ao limite.
A Internet facilitou o acesso à informação e alterou a vida em comunidade, como antes acontecera com a televisão. Os sítios, os blogues e as comunidades virtuais impõem uma realidade muito diferente da que tínhamos em 1998. A adaptação exige evolução. É assim também com os órgãos de informação tradicionais, que deixaram de ser a voz única na relação com os cidadãos mas a quem, perante o “mercado de ideias” que prolifera, continua a caber a missão de fazer jornalismo com justiça e equilíbrio.
 
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Se as novas tecnologias mudaram totalmente os nossos hábitos, há porém realidades que parecem imutáveis. A Pateira e o aproveitamento hídrico dos cursos de água, o metro de superfície e a criação de uma rede de transportes públicos, as ligações de Águeda à auto-estrada e aos principais centros urbanos, o reforço intermunicipal de Aveiro e a efectiva ruptura com práticas egocêntricas do passado… são apenas alguns exemplos.
Percorrer a Linha do Vouga numa qualquer composição é ter a ideia de que o preconizado desenvolvimento anda a velocidades diferentes. Que há um mundo fixado na globalização e outro que vive apenas para sobreviver. Que há gente perdida em luxos e mordomias e outra perigosamente condenada à exclusão.
A Linha do Vouga é o testemunho ainda vivo de que há comunidades sujeitas à estagnação. Como aquela à beira Douro: os habitantes, nas deslocações para a consulta médica, pagam mais ao taxista que os transporta da aldeia até à estação mais próxima do que pelo bilhete de comboio desta até à cidade. Apenas porque alguém, no conforto do seu gabinete e baseado em números, decidiu que o comboio não mais efectuava paragem no apeadeiro daquela terra.
 
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Saber que Águeda tem recursos para poder apostar em energias alternativas é recuar ao tempo da elaboração do PDM – que era e é muito mais do que saber se neste ou naquele terreno se pode construir ou não – e ter a consciência de que o concelho podia ter sido o pioneiro no aproveitamento da água, do vento e dos resíduos florestais. Nem o foi, nem tão pouco soube recuperar ainda algum do tempo desperdiçado. Sobram as discussões estéreis e inúteis…
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Lutar por ligações condignas aos grandes centros urbanos não significa aceitar que nos venham dar um presente envenenado – uma auto-estrada com portagens – quando o que se desejava seria a construção de uma variante segura, assegurando a fluidez de trânsito e o acesso gratuito a todos os cidadãos. Muito menos é ter de aceitar que convertam numa via portajada uma obra concluída já este século, com o objectivo (de décadas) de retirar o trânsito do centro de Águeda. Tal decisão – de transformar a variante de Águeda numa auto-estrada com portagens - conduzirá inevitavelmente a um regresso ao passado, com aumento de tráfego nas vias urbanas da cidade. O futuro não pode nem deve ser construído a qualquer custo e há exemplos de sobra que o atesta: as obras desproporcionadas construídas nos anos dourados, com custos altíssimos e de duvidoso benefício para as populações!
 
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Águeda procura ainda um caminho para recuperar pelo menos algum do espaço que foi perdendo desde que a adesão à Comunidade Europeia abriu Portugal a outros mercados; e adaptar-se, a exemplo de outras comunidades, a um contexto que facilita a concentração do poder económico.
A capacidade empreendedora que se lhe reconhecia está bem expressa hoje num conjunto de empresas de referência, implantadas em vários sectores de actividade. Mas também nas respostas sociais, que tem sido capaz de reforçar através das instituições locais, e ainda no espírito associativo, que mantém em actividade práticas diversificadas e complementares. Umas em decadência, outras porém em crescendo – o que é normal acontecer. Mais difícil é criar um espírito unificador, capaz de fortalecer trabalhos válidos que surgem isoladamente, e aproveitar os bons exemplos para dar corpo e vida a Águeda.
A evolução da Escola Superior de Tecnologia e Gestão indiciaria vantagens se Águeda fosse suficientemente atractiva para captar talentos. Porém, o futuro depende de uma visão estratégica que deve ser consolidada com o contributo efectivo das várias forças vivas e não tanto por imposição desta pessoa ou daquele partido. Pelo contrário, perigoso é o que se tem assistido: à demissão cívica dos cidadãos na abordagem a causas colectivas e ao apagamento progressivo dos partidos políticos, submergidos em arquitecturas de persuasão que fraccionam.