Insensatez, impunidade e esvaziamento da autoridade
Algures no distrito de Aveiro, um jovem não terá obedecido ao sinal da GNR para parar a marcha da sua motorizada. Fugiu, entrou por um terreno privado e caiu a um poço quase sem protecção, falecendo. Um familiar, questionado por um repórter de televisão, comentou, indignado, que se não o tivessem perseguido ele não teria caído ao poço.
Algures, perto da capital Lisboa, um pai protagoniza um assalto levando consigo o filho de 13 anos. A coisa corre mal, a polícia persegue os assaltantes e - amarguradamente - um dos tiros acerta na criança, que morre. De repente, todos questionam a acção da autoridade; mas ninguém parece importar-se com o essencial: qual é a responsabilidade de um pai, curiosamente cadastrado, que leva um filho menor - futuramente, com tal "rodagem", um experimentado na "arte" - para aquele acto ilícito?
Algures, perto de mim, um jovem, recentemente saído de uma pena de prisão, assalta e agride senhoras. É detido e presente a um juiz. Confessa a autoria dos crimes que lhes são imputados. Pouco depois, sai em liberdade... mas com a obrigatoriedade de se apresentar diariamente no posto da GNR.
Sobrar-lhe-á ainda muito tempo para voltar a assaltar e a esmurrar a cara a outros cidadãos. E talvez para voltar a troçar daqueles que o prenderam e o têm de receber todos os dias por ordem do juiz.
São três casos simples que reflectem porque vamos vivendo neste clima de crescente insegurança. Pequenos exemplos que revelam insensatez, uma quase total impunidade e um perigoso esvaziamento da autoridade.
Que sociedade estamos nós a construir?