Embriaguez colectiva (II)
O Euro 2004 foi exemplo do nada e do tudo.
Do nada quando, nos anos e meses que antecederam o torneio e Portugal se preparava para o receber, se promoveu o cepticismo a nível organizativo e o pavor da violência. Era tempo das parangonas sobre os atrasos nas construções e dos simulacros realizados pelas forças policiais, com honras de abertura de noticiários.
Do tudo quando, nos dias que antecederam a competição e durante a mesma, se promoveu um ambiente festivo e de confiança que deixou saudades. Era tempo de se esquecerem os problemas organizativos (que os houve...) e de se falar só pela positiva. Os portugueses descobriram a festa, rejubilaram colectivamente com os êxitos, mostraram a sua melhor faceta a quem os visitou, e souberam desvalorizar incidentes pontuais.
Hoje, num país deprimido e apreensivo, a histeria regressou como se o nosso futuro colectivo dependesse de uma selecção. Com um nível de exigência tão perigosamente elevado, veremos como se comportam os histéricos se Portugal não conseguir chegar no 'europeu' ao lugar onde levianamente o querem guindar?
Nota final 1: Na Alemanha, um pequeno país foi 4º. A nação organizadora, com um vasto palmarés e vários títulos conquistados, soube celebrar o 3º lugar como se de um grande feito se tivesse tratado. O pequeno país, que esteve num 'mundial' apenas pela quarta vez e só num deles fez 3º, prestou um tributo envergonhado à comitiva no seu regresso. Quantas vezes mais seremos 4ºs num 'mundial'?
Nota final 2: Alemanha, Itália e outros países habitualmente ganhadores mantêm-se no topo não tanto pela genialidade dos valores individuais mas pelo equilíbrio da equipa e pela qualidade do seu jogo colectivo. Raramente brilham mas preservam uma consistência especialmente táctica e mental. Veremos se Portugal mostra evolução colectiva capaz de confirmar em campo tão altas expectativas.