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d'aquém e d'além

COISAS E COISINHAS DO NOSSO MUNDO augusto semedo

d'aquém e d'além

COISAS E COISINHAS DO NOSSO MUNDO augusto semedo

Rotas pelo interior

Augusto Semedo, 30.04.08

Mais adiante, em terras de Idanha, surge-nos Penha Garcia na encosta. Sobe-se ao castelo e desce-se pelo lado oposto para cumprir a Rota dos Fósseis. A paisagem muda num ápice. Faz-se a caminhada por aquele vale escarpado. A barragem ao fundo, com águas que abastecem todo o concelho. Os achados, os moinhos e a casa do moleiro. A natureza que nos envolve.

Monsanto a dois passos; Idanha-a-Velha a outros tantos. A imponência do monte, sempre presente naquela imensa terra raiana, faz-nos sentir minúsculos perante os sortilégios da natureza. E as ruas estreitas e íngremes que nos levam, por entre casas graníticas, ao castelo, fazem-nos suar de esforço, admirando a arquitectura popular que constitui aquele núcleo urbano. Lá no alto, a paisagem seduz e convida à serena contemplação.

Na velha Idanha, a primeira Sé católica da ibéria numa das mais antigas povoações, antes conhecida por Egitânia. Por entre achados romanos e de vários períodos da sua imensa história, a recuperação do lagar de azeite e o pão quente a sair do forno comunitário...

Motivações não faltam. Este Portugal merece também ser promovido, dando-se a conhecer ao mundo exterior!  

Este Portugal recôndito e diferenciado...

Augusto Semedo, 30.04.08

Na Covilhã, não apenas jovens fervilhavam o centro da cidade naquela noite subitamente quente.

Em Belmonte, descobri como municípios do interior dão hoje uma cuidada valorização ao valioso património histórico e arquitectónico que herdaram, E como se organizam de forma mais profissional para que o turismo minore os efeitos da desertificação.

Em Sortelha, no seu interior granítico e muralhado, esconde-se uma das belíssimas aldeias históricas recuperadas e uma pequena população à espera que os visitantes façam acreditar que há futuro ali.

Este Portugal recôndito e diferenciado, distante de destinos que assumem privilégios de promoção, tem muito para oferecer. É um Portugal recuperado que convida a uma visita. Um Portugal de ritmo sereno, de paz interior. Que desperta e cria atractivos novos para que seja descoberto e igualmente valorizado.

O Vouguinha, o povo unido e a resignação

Augusto Semedo, 12.04.08

Lembro-me vagamente do "Vouguinha", da locomotiva a vapor e das carruagens com bancos em madeira, como o dos jardins da época, e dos estrados também em madeira. Nele, ia uma vez por ano a Aveiro, à Feira de Março lá em baixo no Rossio, reivindicar a compra de uns 'stickes' e umas quantas bolas, em madeira já se vê, para jogar hóquei no pátio da garagem lá de casa. Faltavam-nos os patins mas fazíamo-nos de Livramento, Chana, Rendeiro, Ramalhete... de todos aqueles nomes que escutávamos nos vibrantes e triunfais relatos radiofónicos.

Os comboios eram um fascínio, não fosse a estação a poucos metros do casarão dos meus avós, ele um ferroviário aposentado da Linha do Vouga e ela uma professora primária com trabalho reconhecido na Sernada, onde até - por persistente vontade dos seus alunos - deu o nome a uma rua.

Recordo-me do grande incêndio, dizem que provocado pela velha locomotiva movida a carvão, que com dificuldade serpenteava pelo Vouga acima. Da interrupção e da sentença que pôs fim à sua circulação. E do dia em que o comboio voltou, agora a gasóleo, recebido em Águeda por uma imensa multidão que se acotovelou na estação e nos espaços envolventes. "O povo, unido, jamais será vencido!" e "o povo é quem mais ordena!" - gritava-se.

A curiosidade depressa deu lugar à desilusão e, pelo tempo adiante, à resignação. As novas locomotivas, afinal, eram velhas de onde vieram; avariavam e abanavam muito. E outras existiam, pequeninas e castiças, mais parecidas com uma carrinha que com um comboio. Com mudanças e tudo! Os passageiros esgotavam os escassos lugares e, invariavelmente, disputavam o apertado espaço que restava. Autocarros da própria empresa possibilitaram entretanto outros horários ou a substituição das cansadas automotoras...

Surgiu entretanto a ideia do metro de superfície. Era preciso modernizar. As câmaras encomendaram um estudo técnico e de viabilidade. Já lá vão quase duas décadas. Avançará algum dia?

A estação está fechada. Os utentes esperam na rua. Esperam ainda mais quando o material avaria. Já nem protestam.

Uma cidadã aguedense, há muito radicada longe mas regressada por uns dias à sua terra, comentou com perplexidade: "- Aquela gente aceita tudo com uma naturalidade que nunca vira nos meus tempos. Como sendo uma fatalidade... como se Águeda nada valesse! Eu é que me senti escandalizada por não reconhecer esta resignação!"  

Instituto Camões em Vigo

Augusto Semedo, 02.04.08

O pólo de Vigo do Instituto Camões colabora nas comemorações da reconquista da então vila às tropas de Napoleão, mantendo uma estreita relação com as autoridades e a população local.

Foi responsável pela presença do Toques do Caramulo, uma criação da d'Orfeu que se impõe no panorama musical. O grupo tem-se revelado em reconhecimento à criatividade dos seus concertos e teve a honra de fechar o 199º aniversário da efeméride. 

O pólo do Instituto Camões funciona num dos mais importantes edifícios da cidade: a Casa de Arines. Data do século XVI e situa-se em pleno 'casco velho', na praça de Almeida, em honra ao General português que contribuiu para a reconquista de Vigo. Em 1994, o município de Vigo, com a concordância da Junta da Galiza, cedeu ao Estado Português o uso, a título gratuito e por 100 anos, da Casa de Arines. Aqui, funciona uma biblioteca, um centro multimédia e salas de exposições, e, proximamente, uma videoteca, com as últimas novidades do cinema luso.

Todos a dançar... ao som dos toques do Caramulo

Augusto Semedo, 02.04.08

Que os espanhóis gostam de dançar não é novidade mas que o façam ao som de música tradicional da serra do Caramulo… “Ahhh, Caramulo!”, dizia alguém que parecia saber onde ficava. E nem os ameaços de chuva, o frio da noite de Vigo e o atraso do início da actuação, afastaram o público do espectáculo do Toques do Caramulo.

 

O Luís Fernandes cumpriu o objectivo de interagir com o público, uma das imagens de marca do projecto Toques do Caramulo, e pôs toda a gente a dançar as modinhas da região.

 

A actuação culminou dois dias de festejos. De origem popular, promovidos pela própria população da zona histórica (ou ‘casco velho’), com gente de todas as idades envolvida em actividades tradicionais.

“Viva Portugal! Viva Vigo!”

Augusto Semedo, 02.04.08

Há portugueses metidos na história da reconquista de Vigo às tropas napoleónicas e a reconstituição da efeméride, presenciada por milhares de pessoas, fez de dois deles figuras centrais. Um, o General Miguel Almeida e Silva, é mesmo um dos heróis da revolução popular, pois foi ele que, incentivando-a, a tornou irreversível.

Com ‘franceses’ – recebidos com vaias pelo público, que se envolve profundamente na reconstituição – e populares locais trajados a rigor se assinalou a efeméride. A Praça da Constituição, mesmo no centro da pequena zona histórica da então vila, estava apinhada.

As cenas principais são retratadas e o público participa. Com apupos aos franceses e ovações a cada sucesso dos que defendem Vigo. Eis que, a dado momento, um general de modos rudes irrompe na varanda do então Hotel da Vila. “Olha a bandeira portuguesa!”, observou um espanhol, ali ao lado. O homem desencadeia a revolução popular e, com outro general espanhol, lideram a reconquista de Vigo. “Viva Portugal!”. “Viva!”. “Viva Vigo!”. “Viva!”

Os protagonistas, trajados a rigor, expulsam os franceses da praça - “Fora! Fora! Fora!”, grita o público que assiste mas entretanto se sente envolvido na reconstituição - e descem as ruas a caminho do porto marítimo. A multidão, impressionante, segue-os. “Fora! Fora! Fora!”, continuam a gritar. Dá-se o combate final junto às Portas de Laxe. Todos seguem para o porto, onde os franceses são repatriados de barco ao som de fogo de artifício.

Vigo e Napoleão - Como muitos outros lugares da Península Ibérica, Vigo foi ocupado pelo exército francês em 1809. A resistência popular a esta invasão provocou um levantamento, liderado por militares, que terminam com um assalto às muralhas e com a expulsão do exército napoleónico. Este episódio motivou a concessão a Vigo do título de cidade Fiel, Leal e Valorosa.

Hoje com cerca de 300 mil habitantes (eram 30 mil em 1910), é a maior cidade da comunidade autónoma da Galiza. O seu porto marítimo tem importante actividade pesqueira, sendo o principal porto pesqueiro da Europa. A cidade é o centro comercial e económico do sul da Galiza e referência da principal área industrial da comunidade autónoma galega, mercê do crescimento verificado nas décadas de 60 e 70 do século XX.