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d'aquém e d'além

COISAS E COISINHAS DO NOSSO MUNDO augusto semedo

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COISAS E COISINHAS DO NOSSO MUNDO augusto semedo

No meu tempo é que era?

Augusto Semedo, 28.02.08

Nos anos 80, quando comecei com esta doidice de ser treinador de futebol, a prática desportiva não estava tão generalizada. Muitos rapazes eram impedidos pelos seus progenitores, iniciava-se a formação mais tarde, não havia tantos clubes nem tantos agentes, mais ou menos qualificados, a enquadrar a actividade.

O mundo era mais acanhado; os jovens, mais atentos, tinham pouco por onde se dispersar. Os estímulos eram escassos, a vida mais pacata, as condições rudimentares e os clubes uma oportunidade para abrir horizontes que de outro modo se revelavam inacessíveis.

A realidade, 23 anos passados, mudou profundamente. Os pais acompanham mais, intrometem-se demais, preocupam-se com tudo, pressionam, exigem... Os jovens, mais conhecedores do mundo, têm hoje um andamento grande; o mundo está à distância de estímulos constantes e variados; as condições de vida melhoraram consideravelmente; os clubes da terra perderam peso mas recebem mais praticantes, estão genericamente melhor organizados e têm uma logística mais cuidada...

A televisão tem profunda influência. Mais, muitas vezes, que os treinadores. Dantes, ensinava-se e o atleta procurava interpretar, seguindo as indicações e concentrando-se nas suas tarefas. Poucos jogos eram transmitidos, os treinadores menos contestados, os jogadores menos idolatrados...

Hoje, a tendência é para que sejam seguidos, inocentemente, modelos que a televisão potencia. Com o objectivo de vender o produto (ou de se viver à custa dele...), releva-se o indivíduo em vez de se valorizar o colectivo; o treinador passou a ser o elo mais desprotegido de uma imensa cadeia de interesses - ele é o burro, o gajo que nunca acerta, apesar de ser ele quem trabalha todos os dias com os seus jogadores e de ter formação para exercer as suas responsabilidades -; os erros de arbitragem sobrepõem-se à apreciação crítica sobre o jogo; a ética está subjugada à obsessão do sucesso...

Esta "cultura" imposta pelo mundo adulto é apreendida pelos jovens praticantes. Hoje mais difíceis de satisfazer e mais exigentes, permanentemente atordoados com múltiplas iniciativas e oportunidades.

Os tempos são diferentes e os jovens de hoje igualmente diferentes. No meu tempo é que era? Errado! Naquele tempo, a ausência do futebol não era compensada com outras actividades e praticá-lo significava estatuto e uma oportunidade; hoje, quem não quiser o futebol tem muito com que se entreter e onde se perder.

Numa sociedade mais egocêntrica, ter tanta gente a praticar uma modalidade colectiva enquanto cresce numa lógica de individualismo, demonstra que este tempo, sendo bem diferente, também é!  

Até ver...

Augusto Semedo, 27.02.08

O Tâmega, o Mosteiro de São Gonçalo e a ponte reconstruída. Um belo quadro de Amarante, cidade às portas do Marão e tomada pelo relevo que a envolve. Terra de peregrinações que a fizeram crescer; por lá passaram as invasões francesas e se fez a defesa da ponte, bem assinalada à sua entrada. Agraciada com a Ordem Militar da Torre e Espada, reergueu-se da destruição protagonizada pelos franceses, que incendiaram quase todas as suas casas.

Foi mais um momento. Curto. Precioso. Proveitoso. Relaxante. Saboreando algumas coisas boas que vão vencendo o desencanto. Apesar de tudo, há ainda quem mereça alguma da nossa dedicação. São poucos mas vai valendo a pena sofrer, dando algo de nós por eles. Até ver...

Os alertas da Sedes

Augusto Semedo, 26.02.08

Saúda-se a intervenção da Sedes, no final da última semana, no diagnóstico que fez do país. Num momento de empalidecimento do exercício de cidadania em Portugal e quando não são tidos em conta os contributos possíveis para enfrentar os reais problemas da sociedade.

Já se sabia que o documento da Sedes não seria bem recebido pelos responsáveis governamentais - cujo discurso irrealista voltou esta semana a ser contrariado por estudos insuspeitos de Bruxelas sobre a pobreza nas crianças.

Trata-se, de facto, de um abrir olhos. De uma pedrada no charco no conformismo que mina uma sociedade rendida à inevitabilidade do seu fado. É, enfim, a confirmação pública do que todos vão sentindo à sua volta: o "mal-estar difuso", a "degradação da confiança dos cidadãos nos representantes partidários", a "presença asfixiante" do Estado em toda a sociedade, o "estado de suspeição generalizada"... A criminalidade que aumenta - "crescente ousadia dos criminosos" - em contraponto com "uma espécie de fundamentalismo ultrazeloso, sem sentido de proporcionalidade ou bom senso" em alguns actos praticados pelo Estado; as situações de desconfiança decorrentes de "duvidosas articulações com interesses privados"... O que se sente e diz à boca pequena!

O alerta de que poderá haver uma "crise social de contornos difíceis de prever" deve ser levado a sério. Muito a sério. O momento é de descrença na estrutura democrática tal como vem sendo utilizada e de desacreditação nos líderes. O "vácuo" existe já, com o abstencionismo e a indiferença crescente; e para que emirjam as "derivas populistas, caciquistas e personalistas" só falta mesmo que se acentue a tendência de pobreza que alastra por todo o território luso e que não se vejam resultados das políticas que o governo diz que vai concretizando.

Alertas destes não devem ser desmentidos ou ignorados, não merecem ser menorizados ou esquecidos. Os seus autores não devem ser vistos como agitadores quando a participação cívica, deficitária, podia ser estimulada e vista como uma mais valia na ambição colectiva de um melhor futuro. 

Seria oportuno que estes alertas desencadeassem uma atitude reflexiva que conduzisse, por sua vez, à criação de políticas que fossem ao encontro das necessidades dos cidadãos. Apelando, talvez, a práticas inovadoras e verdadeiramente mobilizadoras.

Para isso, é preciso "mobilizar os talentos da sociedade para uma elite de serviço". Mas também mudar mentalidades. Em partidos fracturantes, com presença "dominadora, a ponto de asfixiar a sociedade", e virados para os seus interesses e não tanto para a causa pública, será talvez impossível.

Construir resistindo ao miserabilismo

Augusto Semedo, 20.02.08

Num clube, o treinador saiu. Treinava um escalão jovem e era constantemente desautorizado pelo dirigente, curiosamente pai de um jogador habitualmente suplente. O copo transbordou quando, antes de um jogo, o treinador tinha a equipa definida no quadro, em frente aos jogadores, e o director chegou, desfez o 'onze', definindo outro.

Num outro clube, foi recebido com entusiasmo um convite para os seus jogadores irem assistir a um evento desportivo. Dificilmente recusável para quem se identifica com o promotor do convite. Em consequência, uma equipa faltou ao seu compromisso - o jogo nesse mesmo dia -, perdendo-o administrativamente por número insuficiente de jogadores.

Estes casos são falados à boca pequena. Há clubes assim, que quando são falados são-no apenas por bons motivos.

Mas, há casos em que assim não é. Onde tudo é motivo de dúvida, de murmúrio, de boatos, de insinuações... Por mais coerência que haja, por mais cuidados que se tenham num turbilhão de interesses e conveniências, dentro e especialmente fora.

Nuns casos, as dificuldades são minimizadas e os erros desvalorizados, sobrando atenção para o lado (bem positivo...) das acções empreendidas; noutros, a realidade que gravita à sua volta promove precisamente o inverso, transportando consigo uma conveniente (para alguns) carga negativa.

Hoje, em muitos ambientes, quem tenta construir não se concentra apenas na sua tarefa; resiste ao miserabilismo que ameaça transformar instituições prestigiadas em realidades menores, insuficientes e descaracterizadas, sujeitas a interesses múltiplos, circunstanciais e desencontrados. 

Um forte abraço de respeito!

Augusto Semedo, 20.02.08
Correspondendo à solicitação manifestada pelo Jornal da Bairrada, assinalando o 57º aniversário da sua publicação, redigi e enviei o seguinte texto:
 
"O JB é testemunho eloquente do caminho que a (boa) Imprensa Regional tem trilhado. Pela evolução implementada nas duas últimas décadas; pela adaptação a tempos novos de exigência e inovação; pela missão insubstituível na divulgação e valorização de anseios, reivindicações, realidades e iniciativas que de outro modo sairiam diminuídas; pelo contributo activo no desenvolvimento das comunidades que serve…
Como vários projectos do nosso mundo, este e outros da Imprensa Regional serão sempre práticas inacabadas, sujeitas às motivações e à ambição de quem o dirige e dos que nele trabalham - mas também, e fundamentalmente, às do público a quem se destina.
Os aniversários são datas que fortalecem as convicções necessárias ao reforço das realidades, partindo da atitude reflexiva que merecem todos os pormenores do percurso até hoje realizado. Um forte abraço de respeito!
 
Augusto Semedo
(director-adjunto do Região de Águeda)"

 

Carvalhal

Augusto Semedo, 14.02.08

1993 foi ano de festa em Carvalhal. Por um acaso, a luz eléctrica finalmente chegara. A empresa que explorava uma mini-hídrica precisava que uma linha passasse pelo estreito vale do Águeda, e as negociações com a autarquia abriram a possibilidade à electrificação da aldeia.

Como em Rio de Maças, ali a dois passos, a ocasião foi celebrada com pompa e circunstância. Com ementa a condizer e muitos 'notáveis'.

Outro acaso acontecera alguns anos antes. O fatídico incêndio de 1986 possibilitou que, no âmbito de um programa comunitário, algumas estradas fossem abertas na serra. Surgia assim o primeiro, mas rudimentar, acesso a Carvalhal. Por uma picada estreita, sinuosa e irregular.

Foi por aí que desci até ao vale naquele frio e chuvoso dia em que se celebrou a chegada da electricidade aos dois últimos lugares do concelho de Águeda. Hoje, duas estradas asfaltadas unem o vale do Rio Águeda ao mundo. Uma delas, já no município de Tondela, separa Carvalhal da estrada Caramulo/Águeda. Dois insignificantes quilómetros, investimento recente que levou anos a concretizar-se. As casas da aldeia, compradas por forasteiros, são recuperadas para momentos de lazer. Afinal, a Carvalhal tão distante durante tanto tempo, escondida pelos montes e vales da serra, é já ali. Tão perto.

Notitas soltas

Augusto Semedo, 12.02.08

À falta de melhor, deixo por aqui duas notitas soltas. A primeira das quais tem a ver com os semáforos junto ao hospital. Sempre que passava por lá, e fazia-o pelo menos uma vez por dia, o sinal amarelo intermitente era prenúncio de confusão no trânsito e de demora para entrar na ex-nacional. Foi assim, seguramente, mais de três semanas. Informação oficial para o não funcionamento regular dos semáforos não havia. Impunha-se colocar o problema à autarquia, até porque chegavam-nos vozes de contestação, e publicar o assunto nas páginas do jornal. Dois dias depois, com o mesmo a circular junto dos leitores, o problema (avaria mesmo?) estava solucionado. Até hoje. Milagre de imprensa?

Diz-se que as palmeiras da Fernando Caldeira vão mudar de local. Possivelmente para fazerem sombra na despida 1º de Maio. Faz algum sentido? Não haverá outras coisas que se tenham mesmo que mudar?