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d'aquém e d'além

COISAS E COISINHAS DO NOSSO MUNDO augusto semedo

d'aquém e d'além

COISAS E COISINHAS DO NOSSO MUNDO augusto semedo

Em definitivo, uma equipa!

Augusto Semedo, 29.01.08

Chegara semana e meia antes ao comando da equipa. Que perdera os três jogos mais recentes, afundando-se na classificação. Era agora a última e tinha os adversários mais directos a quatro e a sete pontos de distância.

O primeiro jogo correra bem: 3-0 ao Torreense. O ambiente desanuviara e a confiança fortalecera-se.

Seguia-se Peniche. No mínimo, não poderíamos perder, de contrário a desvantagem aumentava e tornava-se praticamente irrecuperável.

Na antevéspera dessa deslocação, após o almoço, um director questionou-me se tudo estava bem. Respondi que não podia estar melhor. - Então prepara-te. Logo vais ter uma surpresa!

Quis saber o motivo mas não me foi revelado. Soube-o mais tarde, antes do treino dessa sexta-feira. Outros dirigentes, que não o que me alertara apenas parcialmente, cumpriam a promessa de pagar um mês aos jogadores... com dois meses de atraso!

A boa nova, porém, trazia uma surpresa desagradável, qual presente envenenado: a uns, a maioria, o pagamento era total; a alguns, principalmente aos avançados, apenas metade!

Não tardou, os jogadores discutiam entre si. Dentro do balneário, cá fora; uns revoltados, outros mais satisfeitos. Vi tudo ir por água abaixo!

Reuni então os jogadores no balneário. Recordei-lhes o que dissera no dia da minha apresentação, quando o dirigente responsável pelo pagamento abandonou o balneário no preciso momento em que entrei nele: "Temos 23 jogadores, todos são necessários para podermos atingir os nossos objectivos e todos serão tratados por igual!"

O presidente estava hospitalizado, sujeitando-se a ligeira intervenção cirúrgica. Prometi à equipa a resolução do problema no início da semana seguinte ao jogo de Peniche. "Se todos são iguais, todos vão receber por inteiro. Se não o fizerem, vou-me embora e direi publicamente porque o faço!" Mas, avisei: "Quero ir para a reunião de peito feito e mostrar orgulho no esforço que vocês vão dar mostras no jogo de domingo!"

Assim foi. Nessa sexta-feira, como no sábado de manhã, os treinos correram tão bem como os anteriores. Com espírito, entrega e vontade de dar a volta à situação. No domingo, empatámos 2-2. Dificilmente. Com menos um homem durante mais de meia hora. Demos o corpo ao manifesto! Mantivemos a desvantagem pontual, recuperando-a depois nas 14 jornadas restantes. E o Peniche foi um dos quatro adversários que lográmos ultrapassar para evitar a descida que muitos dariam como certa.

Reunimos, como o prometido, na terça-feira seguinte. A situação ficou regularizada 12 horas depois. Ganhara, em definitivo, uma equipa!

O mesmo dirigente responsável pelo pagamento naquele dia, que fora à caça no dia da minha estreia oficial à frente da equipa, que faltara à maioria dos jogos e às suas responsabilidades durante o período de reabilitação a que se assistiu, que me ignorara tantas vezes... esse mesmo dirigente, abraçou-me quando, terminado o último jogo do campeonato, garantimos sofrida e brilhantemente a permanência na 2ª divisão nacional.

Vá para fora! Cá dentro?

Augusto Semedo, 24.01.08

A tarifa da viagem a Dublin, em 2006, ficara a 2 cêntimos. Somadas todas as taxas e afins, a jovial capital irlandesa ficou a 60 euros. Agora Milão: 49 euros, já com tudo! Mais oneroso ficaria se fosse de carro a Lisboa... Horários, neste caso, compatíveis para uma escapadela de dois dias. Espírito adequado às circunstâncias. E desejo insanável de conhecer, de experimentar, de aprender... vivendo.

Dublin e Milão jamais teriam sido destinos prioritários em circunstâncias normais. Ambas apresentam apreciável dinâmica económica. Milão, capital da região da Lombardia, é um dos grandes centros europeus de actividade financeira e de negócios. O turismo, subsequentemente ou não, é actividade atractiva. Pelo património histórico e arquitectónico erigido, pelo complexo de exposições e feiras, pela riqueza paisagística e patrimonial da região... Mas não deixa de ter muitas e variadas opções de acesso, que fazem aumentar a procura.

Nós, por cá, vamo-nos confrontando com o monopólio de algumas empresas, que vão encarecendo e diminuindo a oferta. A Madeira e os Açores são exemplos. Ao preço a que as tarifas estão, aceder às ilhas quadriplica, no mínimo, o orçamento.

A oferta é esta porque a procura é escassa ou a procura é escassa porque a oferta é esta?   

Galerias Vittorio Emanuele II

Augusto Semedo, 24.01.08

Galerias Vittorio Emanuele II - nome do primeiro rei da Itália unida, considerado por isso o "pai da pátria" - em Milão. Construídas entre 1865 e 1877. Situadas entre a piazza Scala (do mítico teatro de ópera) e a piazza Duomo (da enorme catedral gótica), é hoje um espaço de luxo, com lojas famosas e preços proibitivos para a imensa maioria das bolsas.

As quatro ruas são cobertas por vidros em arco e ferro, transformado-se assim numa espécie de centro comercial a céu aberto.

Arrivederci, a presto…

Augusto Semedo, 21.01.08

No Orio al Serio, o acolhimento é rudimentar. Uma sala ampla recebe gente de todas as nacionalidades. As cadeiras de plástico amarelas estão esgotadas, há quem durma no chão, na verdade a única forma de se dormir estendido; e quem aguarde em pé, encostado às malas, enganando o sono. Mas há também quem ressone! O barulho do ar condicionado mantém-se irritantemente constante.

Os voos são antes da alvorada e os aeroportos não têm dormitórios. Vou passando o tempo como posso. Espero que a bateria do portátil não se esgote entretanto. Que o nevoeiro não pregue partidas - os voos da noite sofreram atrasos e um foi mesmo cancelado - e “la partenza” para o meu destino seja feita a horas.

Revejo entretanto o mítico Scala, a obra de Leonardo, a imponente galeria e Duomo, as belas “piazzas” e o imenso frenesim… “Arrivederci, a presto”.

Alguém boceja a meu lado. A leitura vai-lhe preenchendo os minutos. Faltam ainda algumas horas para sair desta espécie de abrigo em que nos enfiaram. Gosto destas experiências. “Buonasera”.

Há desalento, a autoridade não existe

Augusto Semedo, 15.01.08

Os vidros dos carros, estacionados na rua dos Caldeireiros, apareceram partidos no começo do dia. Do seu interior, nada havia para desaparecer. Soube-se depois que o mesmo tinha acontecido naquela madrugada em Aveiro e Esgueira. E em Barrô.

- Não são de cá, vêm dos lados do Porto! - afiançava a Autoridade.

Parece que é por mero vandalismo. Simplesmente porque apetece fazer. Mas também para roubar. As técnicas, pelo que nos é dito, são apuradas. Cada vez mais apuradas.

A Autoridade sabe. - Andamos atrás deles, não dormimos, fazemos horas atrás de horas, arriscamos... mas se não os apanhamos em flagrante nada feito! E depois é vê-los na rua, como se nada fosse.

Há desalento. A autoridade não existe. - Não os querem lá, dão despesa. Preferem-nos cá fora! 

Temos de tomar precauções... mas, nunca se sabe. Os nossos passos estarão a ser cuidadosamente observados, as nossas rotinas analisadas; seremos nós as vítimas que se seguem?

- Como as coisas estão poderemos vir a ser um país da América Latina!

Ouvira antes de um qualquer cidadão, não pensara que um dia o pudesse escutar da Autoridade desautorizada, tantas vezes ridicularizada. Desacredita-se. 

Esse Douro...

Augusto Semedo, 08.01.08

O Douro corria sereno, como aquele domingo na minha vida. Madrugara, novamente. Assistira a mais um bom desempenho dos jovens atletas que vou seguindo mais de perto. Arrebitaram a tempo e podem agora orgulhar-se do que têm feito mais recentemente. Às vezes ainda me sinto treinador...

É estimulante, sempre, calcorrear o Porto histórico, Património da Humanidade. Com tudo o que ele tem de genuíno, impressionável nas virtudes do legado e nas fragilidades humanas mais ou menos latentes. Arrebatador e constrangedor. Opulento e indigente.

Contemplar o Douro e as suas margens, aquela soberba paisagem, possibilitou desocupar o espírito da intensidade das nossas tarefas. Há sempre algo a descobrir quando se volta aquele lugar... 

Os patos do senhor Otelo

Augusto Semedo, 05.01.08

O primeiro aviso sonoro da lambreta surgira bem em cima da ponte de Trajano, sobre o Tâmega. Antes do senhor Otelo imobilizar o veículo junto às margens do rio e voltar a ecoar aquele sinal, semelhante ao grasnar com que os patos respondiam enquanto se aproximavam. Lá longe, dois deles davam às asas, recuperando a distância para os demais.

Grasnando constantemente, os patos dirigiram-se aquela margem, subindo a ligeira inclinação de relva e aguardando, de bico no ar, a vez de aproveitarem a refeição que o senhor Otelo lhes trouxera.

Contou-nos que faz isto há cinco anos. Todos os dias. Trata-os pelo nome. Sabe quem são os mais envergonhados, a quem precisa de atirar o pão; e os atrevidos e desenrascados, sempre na primeira fila à espera de mais. Mostrou-nos o dedo que, há uns anos, quase era arrancado por um pato grande. Levara-lhe o anel mas conseguira recuperá-lo. E há ainda o pato que ficou sem uma pata, não conseguindo por isso subir até ele, e que quase morrera sem alimento.

"Pronto, já não há mais! Hoje, acabou!".

Levantou-se, os patos voltaram às águas do Tâmega. Sorriu, gostou de ser fotografado e deu o endereço para que lhe enviasse uma. Quase acabávamos aquela tarde fria em sua casa, ali a dois passos do centro de Chaves, vencidos pelos repetidos convites em saborear as irresistíveis iguarias locais.

Sorumbática a tarde, sedutora a redescoberta

Augusto Semedo, 04.01.08

O centro histórico da cidade, a paisagem em redor, o Tâmega e as margens valorizadas... A ponte de Trajano, o largo do Pelourinho, a torre de Menagem e as muralhas... É Chaves!

O património histórico e as ruas cuidadas por investimentos recentes colidem com a crescente degradação do característico parque habitacional no centro. Aluga-se ou vende-se! Vende-se! Vende-se! Vende-se! Haverá compradores?

No dia 1, primeiro do ano, nada aberto. Só uma agência funenária e uma associação local, com gente de idade avançada no seu interior. Sinal dos tempos ou da época...

Na Madalena, às portas de um café de portas fechadas, discutia-se a nova lei do tabaco. A noite, certamente agitada e longa, e o dia, frio e sombrio, tornavam sorumbática aquela tarde; mas igualmente sedutora a redescoberta de um dos locais que não merece perder jovialidade nem encanto.

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