Em definitivo, uma equipa!
Chegara semana e meia antes ao comando da equipa. Que perdera os três jogos mais recentes, afundando-se na classificação. Era agora a última e tinha os adversários mais directos a quatro e a sete pontos de distância.
O primeiro jogo correra bem: 3-0 ao Torreense. O ambiente desanuviara e a confiança fortalecera-se.
Seguia-se Peniche. No mínimo, não poderíamos perder, de contrário a desvantagem aumentava e tornava-se praticamente irrecuperável.
Na antevéspera dessa deslocação, após o almoço, um director questionou-me se tudo estava bem. Respondi que não podia estar melhor. - Então prepara-te. Logo vais ter uma surpresa!
Quis saber o motivo mas não me foi revelado. Soube-o mais tarde, antes do treino dessa sexta-feira. Outros dirigentes, que não o que me alertara apenas parcialmente, cumpriam a promessa de pagar um mês aos jogadores... com dois meses de atraso!
A boa nova, porém, trazia uma surpresa desagradável, qual presente envenenado: a uns, a maioria, o pagamento era total; a alguns, principalmente aos avançados, apenas metade!
Não tardou, os jogadores discutiam entre si. Dentro do balneário, cá fora; uns revoltados, outros mais satisfeitos. Vi tudo ir por água abaixo!
Reuni então os jogadores no balneário. Recordei-lhes o que dissera no dia da minha apresentação, quando o dirigente responsável pelo pagamento abandonou o balneário no preciso momento em que entrei nele: "Temos 23 jogadores, todos são necessários para podermos atingir os nossos objectivos e todos serão tratados por igual!"
O presidente estava hospitalizado, sujeitando-se a ligeira intervenção cirúrgica. Prometi à equipa a resolução do problema no início da semana seguinte ao jogo de Peniche. "Se todos são iguais, todos vão receber por inteiro. Se não o fizerem, vou-me embora e direi publicamente porque o faço!" Mas, avisei: "Quero ir para a reunião de peito feito e mostrar orgulho no esforço que vocês vão dar mostras no jogo de domingo!"
Assim foi. Nessa sexta-feira, como no sábado de manhã, os treinos correram tão bem como os anteriores. Com espírito, entrega e vontade de dar a volta à situação. No domingo, empatámos 2-2. Dificilmente. Com menos um homem durante mais de meia hora. Demos o corpo ao manifesto! Mantivemos a desvantagem pontual, recuperando-a depois nas 14 jornadas restantes. E o Peniche foi um dos quatro adversários que lográmos ultrapassar para evitar a descida que muitos dariam como certa.
Reunimos, como o prometido, na terça-feira seguinte. A situação ficou regularizada 12 horas depois. Ganhara, em definitivo, uma equipa!
O mesmo dirigente responsável pelo pagamento naquele dia, que fora à caça no dia da minha estreia oficial à frente da equipa, que faltara à maioria dos jogos e às suas responsabilidades durante o período de reabilitação a que se assistiu, que me ignorara tantas vezes... esse mesmo dirigente, abraçou-me quando, terminado o último jogo do campeonato, garantimos sofrida e brilhantemente a permanência na 2ª divisão nacional.