Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
A manhã soalheira não foi certamente suficientemente convidativa para um passeio pelas margens da lagoa. Ou então as preocupações natalícias de última hora determinaram uma frenética corrida aos centros comerciais. Os parqueamentos, repletos, e as estradas, congestionadas, não enganavam.
Afinal, um passeio domingueiro à praia significa, para muitos, circular vagarosamente em filas de trânsito, dando a volta às principais artérias e regressar à proveniência. Às vezes, com uma soneca pelo meio dentro da viatura.
As coisas, de facto, não acontecem por acaso. Buscando exemplos aparentemente desencontrados consegue-se entender porque há decisões que (não) se tomam e realidades que se mantêm, por muita tinta que a consciência de alguns faça correr. Porque não se valoriza nem se desfruta. Porque teima o cinzentismo.
A ruralidade e a ligação umbilical com o mar assemelha-se ao que conhecemos em vastas áreas do nosso país. Como a timidez no aproveitamento dos seus recursos naturais e patrimoniais para o turismo, o relativo desordenamento do património erigido e a necessidade de emigrar para melhorar condições de vida.
À falta de tempo para novas decobertas, revisito esta Galiza ainda distante dos grandes centros. Que nos recebe com cordialidade e nos presenteia com sabores tradicionais.
- Se Águeda deixar de produzir, o país pára!
Assim, sem mais, um empresário da região do Oeste reforçava o que dissera antes: que a esmagadora maioria dos seus fornecedores é deste concelho.
Fez lembrar quando se dizia que Águeda era o país. Quando havia cagança e se dizia com orgulho aos outros que se era de Águeda.
Minutos depois, num grupo de jovens empresários locais em amena cavaqueira com quadros superiores de empresas, comentava-se a razão pela qual Águeda não capitaliza o que é capaz de produzir.
- Pois é, muitos têm até vergonha de dizerem de onde são. Se estiverem em Lisboa ou Porto, custa-lhe dizer que são de Águeda!
O recado não terá sido em vão. Teria destino e terá mesmo acertado no alvo. Porque será que tem de ser assim?
Pateira de Fermentelos é o nome que lhe dão. Para quem vem da Assembleia da República, recomenda-se que tome a A1 e siga sempre em frente até ao nó de Aveiro Sul/Águeda. Não há que enganar! Depois, em estradas secundárias, são mais quatro a cinco quilómetros até à lagoa. Saindo da A1, é preciso virar à esquerda, em direcção a Águeda/Oliveira do Bairro. Se em dias úteis, recomenda-se um pouco de paciência e muita atenção perante o intenso trânsito; mas as filas, ao contrário da capital, vão andando... Nos primeiros semáforos, virar novamente à esquerda. Cuidado com as velocidades no acesso à vila de Fermentelos, onde placas estrategicamente colocadas levam os interessados até ao local. Há onde comer e dormir. Pode participar-se em actividades ao ar livre e conhecer-se um pouco mais em pormenor esta dádiva da natureza. Se as preenchidas agendas um dia o permitirem...
A ceifeira estará certamente à disposição para que os VIP possam dar um salto à outra margem, apreciando a paisagem de ângulos diversos. Seria certamente uma experiência saudável e enriquecedora.
Depois, pode ir-se à Barrinha de Esmoriz que a gente não se chateia. Fica um pouquinho mais a Norte e sempre se pode conhecer um pouco melhor o país real, aquele que vota acreditando na sensibilidade dos que poderão resolver os seus problemas e anseios.
Cresci a ouvir falar da Pateira. Das suas potencialidades, dos perigos ambientais, da ausência de investimentos...
Fiz, já adulto, peças jornalísticas de perder a conta. Sobre o que ouvira na infância e juventude mais os anseios da população ribeirinha e dos autarcas. Testemunhando visitas e veiculando promessas de quem poderia mudar o destino à lagoa.
Escuto sentimentos de angústia perante novas ameaças e gritos de alerta face à alegada indiferença de quem decide.
Assisto a tentativas políticas, a jogadas de charme, a reivindicações inconsequentes. A Pateira está hoje na agenda política local para além dos actos eleitorais. Quando os seus problemas são apresentados na distante Lisboa ainda lhe chamam... Barrinha - e confundem-na com a de Esmoriz.
Onde estão afinal, e o que têm feito, os deputados eleitos por Aveiro? Porque não são eles a apresentar em Plenário, na Assembleia da República, as preocupações dos autarcas de Águeda? Porque não se reúnem eles com as autarquias da região e preparam uma acção conjunta? Porque será que, tantos anos passados, essa Pateira que ninguém parece saber onde fica ainda se discute no Parlamento?
Temo que tudo continue na mesma. Que a personalização e as rivalidades predominem perante o essencial.
Há coisas que não mudam nunca. Mudarão um dia?
Um comerciante abordou-me à porta do seu estabelecimento. Indicou-me o local onde tinha acontecido o roubo, numa recente noite de pilhagens pela cidade.
- Isto está cada vez pior!, lamentou-se.
Disse conhecer o trio autor dos roubos e deu até pormenores sobre um deles, por sinal vizinho seu. Contou que ele e outros comerciantes, mais o guarda nocturno, quase apanhavam os larápios em flagrante.
- É tudo para droga!, asseverou convictamente.
Contou ainda que a autoridade, quando chegou ao local, disse aos lesados que deveriam ter mantido o trio no interior do estabelecimento, evitando assim a sua fuga.
- Só apanhando-os em flagrante delito podem prendê-los! - garantiu, adicionando: - Quis apresentar queixa mas, quando o polícia me disse que era preciso pagar 80 euros, mandeio-o dar uma volta! Não há nada a fazer... isto está mesmo para os ladrões!
Mesmo que não seja exactamente assim, o sistema está desacreditado e muitos lesados resignam-se. Haverá diminuição de criminalidade, desta criminalidade, em Portugal? Esta estatística...
2007 correu depressa mas há já quem tenha antecipado o número de dias de ócio que 2008 permitirá... a alguns. Dias feriados sempre estiveram marcados no calendário desde que me conheço. As designadas "pontes" têm sido instituídas mais recentemente, avolumando-se a sua aplicação nos sectores que as permitem.
As contas que vêm hoje na imprensa podem ser feitas apenas por alguns. Ou não fossemos um País de diferentes práticas. E é preciso dizê-lo. Outros trabalham com o tempo e a realidade é bem diferente. Terão certamente hoje maior precariedade no emprego e amanhã uma reforma incerta e bem menos generosa. Serão a maioria da população. Viverão agora mais preocupados em defender o seu posto, por rudimentar que seja, e a entidade que os emprega, por desencanto que haja.
Para esses as contas são outras. E, já na quadra festiva que se aproxima, estarão a bulir durante as costumeiras duas semanas de ócio para uma minoria (?) de eventuais privilegiados.
Fale-se, pois, em índices de produtividade e permita-se que cresça a disparidade entre realidades empregadoras. Não se resolvam questões que permanecem abertas há décadas e continue a tomar-se medidas por simpatia. Acuse-se mas adie-se. Alguns, poucos, talvez agradeçam um dia o sistema que os beneficiou!