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d'aquém e d'além

COISAS E COISINHAS DO NOSSO MUNDO augusto semedo

d'aquém e d'além

COISAS E COISINHAS DO NOSSO MUNDO augusto semedo

Fazer fintas e marcar penaltis!

Augusto Semedo, 31.10.07

Um treinador de futebol tem-me dito com frequência que os seus jogadores, a determinado momento nos treinos, pedem-lhe para “fazer fintas e marcar penaltis”. Perante a incredulidade do treinador, que sempre se habituou ao rigor e à exigência enquanto jogador, disseram-lhe que eram correspondidos a idêntico apelo nas épocas anteriores.

O treinador explica-lhes porque não se deve valorizar as fintas quando o jogo é colectivo; que,antes das fintas e dos penaltis, o passe e a recepção da bola (muitos apresentam ainda carências gritantes...), a mobilidade e os restantes princípios (de ataque mas também de defesa, que nem sabiam existir!) do jogo são mais urgentes e determinantes…

A criação de maus hábitos, e a dificuldade em aceitar modelos que privilegiem o método, é hoje mais fácil acontecer que no passado. E começar cedo na prática de um jogo só significa vantagem se o processo formativo for protagonizado por agentes competentes, ajudando na compreensão e na execução correcta das acções individuais e colectivas necessárias.

Os jovens praticantes crescem influenciados pelas fintas dos Quaresmas e dos Ronaldos, a que acresce a ausência de pedagogia na exposição pública de um jogo que é consumido (na base da clubite e da individualização) mas não apreciado (na sua essência técnico-táctica).

Assim, ao mesmo tempo que se constroem infra-estruturas e que cresce o número de praticantes, destrói-se a autoridade técnica e diminui a capacidade de entendimento e de interpretação à volta do jogo.

Quem desconfia não acredita

Augusto Semedo, 26.10.07

Um dia, o pai de um atleta abeirou-se de mim: - Se quiser fazer a sua casa, e precisar de terraplanar o seu terreno, faço-lhe o trabalho com todo o gosto!

- Muito obrigado, mas não irei necessitar! - respondi. Insistiu. Voltei a rejeitar a oferta. - Não tenho qualquer problema em fazê-lo, trabalho nisso e aos fins-de-semana terei todo o gosto em terraplanar o seu terreno.

- Não tenho terreno nem qualquer plano para fazer casa! - disse-lhe, de novo. - Então, qualquer coisa que precisar...

Estava no meu primeiro ano como treinador, em 1985. Curiosamente, não mais voltei a lidar com uma situação parecida. Ainda bem.

O filho não jogava habitualmente. Para mim, porém, o jogar ou não, o jogar mais ou menos tempo, nunca obedeceu a critérios de simpatia ou de favores. Sou pela análise técnica e pela assumpção de responsabilidades que advém das tarefas e funções que cada um tem numa determinada estrutura. Cultivo o princípio de que as relações pessoais não devem interferir nas decisões profissionais, sejam estas bem ou mal tomadas.

Era um pouco (ou demasiado...) verde nessa época. E tive dificuldade em encaixar o que, chegando ao meu conhecimento, se seguiu a este episódio. Limitara-me, afinal, a proceder como a minha consciência mandava.

O homem, descontente com uma recusa que me parecia não oferecer dúvidas, começou a passar pelos cafés e tabernas da aldeia onde habitava que o treinador só utilizava nos jogos os filhos dos ricos, e coisas assim.

Sempre recusei lidar com expedientes mas quem se habituou a conviver com eles terá muita dificuldade em aceitar que haja alguém que os rejeite. Quantos serão? Por isso, talvez, sejamos hoje o país do ocidente com maior índice de desconfiança. Desconfiam de tudo e de todos, dos que agem de acordo com princípios e dos que os infligem de forma constante. Não há distinções. Duvidam. Insinuam.

Acham que tudo se consegue não pela razão mas pela insinuação, não pela competência mas pela capacidade de influenciar, não pelo mérito mas pelo compadrio.

Por isso, em Portugal, dificilmente se valoriza o que merece ser valorizado, se aprecia o que merece ser apreciado, se apoia o que merece ser apoiado.

Porque quem desconfia não acredita!

 

Usam a maledicência como arma de defesa.

Realidades do futebol

Augusto Semedo, 24.10.07

Eixense - O clube pode significar pouco para a maioria mas a actividade que gera é um testemunho vivo de realidades subestimadas que têm enorme mérito. Há alguns anos, passou a apostar apenas nos escalões de formação e, mais recentemente, herdou um relvado que lhe suga hoje os parcos recursos disponíveis; mas tem sabido elevar os níveis de qualidade no que respeita ao trabalho desenvolvido. Apresenta-se bem organizado e muito melhor equipado. Conta com condições de reabilitação de fazer inveja a clubes de maior dimensão e uma estrutura de apoio bem equipada. Projecta alargar o espaço destinado ao trabalho de campo. Este clube é hoje mais um exemplo de que há realidades escondidas e desvalorizadas mas com enorme alcance desportivo e social. Afinal, o futebol, neste país como noutros, está longe de se limitar às acções mediatizadas e continua a depender de múltiplos exemplos simples, generosos e corajosos como este. Que merecem dispor de muito mais apoio do que aquele que têm efectivamente tido!

Tiago Moura - Lamento ver mais um atleta com futuro a desinteressar-se e a desistir. O percurso académico pode ser compatível com uma carreira desportiva e há por aí muitos exemplos que o atesta. O futebol - face às exigências diárias com os treinos e a competição, desproporcionais na maioria dos casos às condições oferecidas e à ausência de perspectivas sólidas -, não dará hoje a motivação de há década e meia. Por isso, e porque os jovens de hoje querem que tudo aconteça demasiado rápido (têm crescido numa sociedade que os vem educando assim...), a desmotivação supera a atitude combativa de outrora. Para que essa atitude prevalecesse seria necessário acreditar-se no que se faz e no que nos envolve, sentindo ainda que os outros acreditam em nós. Como eu compreendo o Tiago...   

Será para afastar (ainda mais...) o público dos jogos?

Augusto Semedo, 22.10.07

Anadia tem um sintético para futebol de 11 integrado naquele excelente complexo desportivo, erguido nos últimos 15 anos. Quando lá vou lembro-me da época em que treinei o Anadia, que coincidiu com a construção do estádio, num local ermo, aparentemente afastado da então vila, sem qualquer acesso digno desse nome. Hoje, concentra uma série de equipamentos (não só desportivos...) de boa qualidade.

Um reparo, porém, devo fazer. À volta do sintético para futebol de 11, foi colocada uma enorme rede que separa o relvado (a precisar de borracha...) do público que assiste aos jogos. Que o campo tenha de ser vedado é evidente; mas que tal vedação (em rede e alta) condicione a observação do jogo que se pretende apreciar não tem pés nem cabeça.

Afinal, o que pretendem? Afastar o público dos jogos de futebol? Tratando-se de espaços desportivos recentes não fará sentido criarem-se condições também para quem quer ver os jogos? Ou na lógica de quem arquitecta estes espaços deve haver jogo sem espectadores?

Assim como está, aquele espaço contribui para um afastamento ainda mais acentuado das pessoas, mesmo aquelas que por responsabilidade ou por laços afectivos se sentem na obrigação e têm o gosto de marcar presença durante a competição.

O Mico, a vitória na Covilhã e a viagem em contra mão

Augusto Semedo, 20.10.07

Ontem, quando chegava a casa de mais um treino, sou surpreendido com uma chamada telefónica do Miguel Cunha. A Rádio Botaréu entrevistava o Mico, recentemente saído da BARC, onde desenvolvera bom trabalho, e a equipa em estúdio queria fazer-lhe uma surpresa.

Gostei. O Mico foi o único atleta que fez comigo todos os meus primeiros sete anos como treinador do Recreio. Acompanhei-o dos iniciados aos seniores.

No seu primeiro ano como sénior, participávamos com sete ex-juniores na 2ª divisão nacional, conseguiu a titularidade, jogando com regularidade.

Estreei-me como treinador principal em 1992, precisamente nesse seu primeiro ano como sénior. É verdade! Na Covilhã, perante o Sporting local. Em Março. Aos 4 minutos ficámos a jogar com 10, por expulsão do jovem avançado poveiro Paulo Oliveira. Mas ganhámos por 1-0! Ironia do destino, foi Mico quem, com um pontapé canhoto de fora da área, fez o golo do êxito a um quarto de hora do fim.

Que estreia! Apesar da viagem, naquele autocarro Toyota de 1982, com 18 apertados lugares e 10 horas sentados (cinco para cada lado), nem dormi. No dia seguinte, antes das oito da manhã, já andava a pé! Comprei jornais. Vivi o momento! Não completara ainda 29 anos.

A deslocação conheceu episódios para contar. O condutor do nosso autocarro tinha pavor ao IP5 e descia frequentemente com a segunda engatada. O barulho do motor era insurdecedor e circulávamos a passo de caracol... Foi o Arsénio, que viajava ao lado do condutor, mais do que um co-piloto, o seu guia espiritual.

- Meta a terceira!... E ele metia. - E agora a quarta!...

Nas apertadas curvas à saída da Guarda, feitas em contra mão com medo do imenso precipício que surgia à sua direita, foi o Arsénio quem controlou o pânico de quem guiava mais 18 vidas.

No regresso do jogo, novamente na Guarda, o jantar do condutor ficou no prato, tal o pavor de ter de regressar pelo IP5.

Chegámos, porém, sãos e salvos a Águeda. Com 3 pontos na bagagem e eu visivelmente eufórico com uma estreia no momento prometedora. Santa inocência...

P.S. - Hoje, no mesmo clube, treino jovens atletas nascidos em 1989 e 1990. São juniores. Estariam no infantário. Destaco a excelência da formação humana de alguns e o enorme potencial futebolístico de outros. No tempo do Mico, porém, e chegados a juniores, a habituação à exigência era uma realidade adquirida e perfeitamente cimentada. 

Percorrer 20 metros em uma hora

Augusto Semedo, 19.10.07

Madruguei naquela terça-feira que se adivinhava soalheira. Informara-me de que tinha de ser assim para evitar as imensas filas para entrar no Vaticano. Às 8 em ponto (menos uma hora em Portugal) era o quarto à espera de subir de elevador à cúpula da Basílica de São Pedro. Comigo, duas jovens asiáticas pareciam ter tido a mesma ideia: haviam apanhado o autocarro 40 na estação Termini, no centro de Roma, e sairiam na mesma paragem para percorrerem a avenida da Conciliação. Uma prescindiu do elevador e quis subir os 500 e tal degraus a pé; a outra fez como a maioria, mesmo que se tenha ainda de fazer mais de 300 degraus, por entre escadas estreitas e progressivamente inclinadas, até se chegar ao patamar superior. Quem sofra de claustrofobia o melhor mesmo é ficar cá por baixo...

Quando saí, para me dirigir ao Museu, um quilómetro a contornar muralhas do Vaticano, a fila perdia-se em ziguezagues, antes do controlo obrigatório.

O pior estava para vir: quinhentos metros de gente proveniente de todo o Mundo, retida em toda a largura do passeio e obrigada a longa espera.  A fila crescia e não dava sinais de avançar. Vinte metros percorreram-se na primeira hora! Comprei uma garrafa de água a uma senhora que abrira cuidadosamente uma mochila enquanto olhava em redor se a autoridade policial a descobria. Bebi vagarosamente e, à falta de melhor, fui dando uns passos a toda a largura do passeio. De cá para lá e de lá para cá... massacrando a garrafa até ficar farto e a colocar no recipiente do lixo. Depois, andou-se bem melhor na hora e meia restante. Graças a Deus! 

Valeu contudo ter a paciência que outros não mostraram e investir num museu que fascina com os valiosos acervos, testemunhos da História da Humanidade. A extraordinária beleza do espólio também faz esquecer o tempo perdido na longa fila.

O local inspira. Fora, apesar da espera, e dentro a ordem, a tolerância e a cordialidade imperam. O momento é único e povos de todo o Mundo parecem esquecer o ruído com que convivem lá fora...

Mesmo para um cidadão comum um dia é escasso para apreciar convenientemente aquele espaço. E apesar de não deixarem fotografar a famosa Capela Sistina, e de várias restrições em determinados espaços, o difícil mesmo é conseguir seleccionar os imensos registos que testemunham a visita para a posteridade. O melhor é visitar!  

Algumas fotos de Roma

Augusto Semedo, 18.10.07

 

Roma é história, um testemunho e um símbolo da civilização ocidental. É uma cidade cara e cosmopolita, a pulsar ao ritmo do inesgotável espólio que possui. Frenética e ousada, não vive apenas do seu passado e continua a assumir posição destacada em várias áreas. O turismo, porém, é responsável por um movimento impressionante. A cidade, apesar da sua enorme dimensão, tem ruas e praças cheias de gente proveniente de todos os cantos do Mundo. Em todo o lado! A alegria é contagiante...

Não há bela sem senão: o lixo, o desprendimento no atendimento em alguns serviços e o desrespeito pelos peões nas passadeiras não estão à altura da histórica Cidade Eterna. De todo o lado chegam imigrantes. Muitos, muitos mesmo, vivem numa relação de 'gato e rato' com os 'carabiniere', em luta permanente pela sobrevivência, por entre a multidão de turistas que assistem a algumas cenas caricatas e a mais motivos de diversão. De borla (neste caso..), o que não é fácil acontecer em Itália.  

O PIDDAC e o cartão vermelho que se impõe!

Augusto Semedo, 15.10.07

Aveiro / Distrito cai para 8º lugar no investimento previsto em PIDDAC - Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central - no conjunto dos distritos do País.

O "bolo" para 2008 fica-se pela metade do ano corrente, acentuando a tendência de descida.

Investimentos reclamados há décadas, como a via rápida Aveiro/Águeda e a Pateira, continuam ignorados pelo Estado. Muitas promessas e muitas visitas depois...

Águeda continua ignorada pelo Governo socialista e, neste particular, os últimos PIDDAC são uma derrota para a actual Câmara Municipal.

A Pateira tem sido uma bandeira da autarquia que, pelos vistos, não sensibiliza o Governo da mesma cor. Governo, de resto, chefiado por um político que, enquanto secretário de Estado, juntou o seu nome à infinita lista dos que se deslocaram à lagoa.

As acessibilidades constituem um problema que persiste, apesar da indignação se avolumar desde os anos 80. Aumentam as dificuldades de circulação na região, seja em direcção a Aveiro ou Coimbra, seja para chegar à auto-estrada (onde curiosamente, ou talvez não, persistem os erros de indicação nos acessos mais curtos e rápidos para Águeda).

À autarquia aguedense resta que o PIDDAC de 2009, ano de eleições, seja bem mais simpático.

Ao distrito, e a exemplo das legislativas anteriores, não irão faltar "figuras de cartaz" no topo das listas dos principais partidos concorrentes ao Poder. À força eleitoral do distrito não tem correspondido o necessário investimento. Falta que a população aveirense mostre um cartão vermelho a quem se comporta consigo desta forma!  

Mentes arejadas

Augusto Semedo, 11.10.07

- Cala-te!... não perdebes nada disso!

A recriminação do rapaz tinha como destinatário o pai, que tecia considerações pouco consistentes sobre a actividade desportiva do filho. A cena tem uma década...

De fora, olha-se de acordo com os respectivos interesses e motivações. É normal. Mas esquece-se que o trabalho é colectivo e que a pessoa insere-se num grupo. Que este integra um processo e que o processo tem bases metodológicas próprias - que vão muito para além dos factores de rendimento sujeitos à apreciação dos elementos exteriores à acção.

De fora, a apreciação é parcial também porque o envolvimento é limitado. É normal. Por isso, a importância de se confiar nos responsáveis, na sua capacidade e sentido de oportunidade e justiça nas decisões que tomam. Há uma formação que pode ir muito para além do jogo, regras que podem educar a (con)viver e a produzir em grupo - pormenores que ajudam a elevar a qualidade da acção mas dificilmente entendíveis por quem não sabe o que isso é.

A dificuldade em entender novas mensagens ou modelos evolutivos, diferentes daqueles que eram tidos como certos nas gerações anteriores ou por actores conformados com a sua realidade, continua a ser um obstáculo determinante na relação entre as pessoas.

Pedem-se mentes arejadas, abertas a novas propostas, para se poderem transformar realidades que precisam sair do círculo vicioso em que entraram. Algumas revelam-se... mas desaparecem no meio desta sociedade triturante.  

Leis (?) estúpidas

Augusto Semedo, 04.10.07

'Fontana di Trevi'. Uma multidão, presente de forma constante em redor da enorme fonte barroca, dava vida à estreita 'piazza'.

Cumprindo um dos meus objectivos de viagem, registava o momento em fotografia. Utilizando obviamente o tripé, havia começado a série de 'nocturnas' no Coliseu; seguiu-se depois a área do 'mercati traiano' e o notável monumento a Vittorio Emanuele II, o 'pai da pátria'.

Era chegado o momento da fonte das trevas. Uma, duas, três... por entre cabeças de gente que circulava e não permitia ângulos mais apetecíveis.

Às tantas, abeirou-se de mim um polícia municipal. Para dizer que era proibido tirar fotografias com tripé! Porquê? Porque é considerada fotografia profissional e não pode ser.

Ainda tentei explicar que são para consumo pessoal, que não sou profissional... Não, não pode ser!

Só aqui ou em todo o lado? - perguntei. Em toda a Itália!

O polícia foi-se. Contrariado mas obediente, recolhi o tripé e deixei de fotografar. Fui à geladaria da 'piazza' adoçar aquele momento com um cone de dois sabores artesanais. Constatando que os 1,60 euros ficam bem mais em conta que o que nos pedem pelos gelados na Barra. Uma excepção, de resto, em terra de 'contorni's'.

Voltando à proibição. É intrigante! Veio o homem ter comigo quando eram aos magotes os turistas que usavam tripé nos locais mais emblemáticos da cidade. E com tantos 'carabiniere' como testemunhas... Terá o sujeito embirrado comigo? Ou, lá como cá, haverá leis estúpidas e homens mais ou menos zelosos conforme o humor ou as conveniências?

P.S. - Em homenagem ao zeloso polícia, divulgo duas fotografias que, em seu entender, são profissionais. Foram captadas antes... e como não estava num país 'em vias de desenvolvimento' não me sacaram o cartão de memória.  

   

 

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