Fazer fintas e marcar penaltis!
Um treinador de futebol tem-me dito com frequência que os seus jogadores, a determinado momento nos treinos, pedem-lhe para “fazer fintas e marcar penaltis”. Perante a incredulidade do treinador, que sempre se habituou ao rigor e à exigência enquanto jogador, disseram-lhe que eram correspondidos a idêntico apelo nas épocas anteriores.
O treinador explica-lhes porque não se deve valorizar as fintas quando o jogo é colectivo; que,antes das fintas e dos penaltis, o passe e a recepção da bola (muitos apresentam ainda carências gritantes...), a mobilidade e os restantes princípios (de ataque mas também de defesa, que nem sabiam existir!) do jogo são mais urgentes e determinantes…
A criação de maus hábitos, e a dificuldade em aceitar modelos que privilegiem o método, é hoje mais fácil acontecer que no passado. E começar cedo na prática de um jogo só significa vantagem se o processo formativo for protagonizado por agentes competentes, ajudando na compreensão e na execução correcta das acções individuais e colectivas necessárias.
Os jovens praticantes crescem influenciados pelas fintas dos Quaresmas e dos Ronaldos, a que acresce a ausência de pedagogia na exposição pública de um jogo que é consumido (na base da clubite e da individualização) mas não apreciado (na sua essência técnico-táctica).
Assim, ao mesmo tempo que se constroem infra-estruturas e que cresce o número de praticantes, destrói-se a autoridade técnica e diminui a capacidade de entendimento e de interpretação à volta do jogo.