O exemplo inglês
O futebol inglês tem passado por visíveis alterações nas duas últimas décadas. Deixou de ter como horizonte limite as ilhas, passando a olhar para fora do seu umbigo.
Primeiro, foram os treinadores a juntarem novos modelos a um jogo conservador, "very british", de elevada intensidade, de muita profundidade e combatividade; porém, esgotado por ser limitativo face às variáveis tácticas, e também estéticas, que o jogo permite.
Os britânicos, senhores do seu nariz, renderam-se porém aos novos modelos de jogo, praticados hoje pelas principais referências do país, que implicaram naturalmente novos modelos de jogador e de preparação.
Com novos treinadores e diferentes escolas, e com o poderio financeiro que se reconhece existir, foram recrutados jogadores em mercados tão diversos que a Liga será, hoje, a mais apetecível do mercado futebolístico.
Sendo atractiva, do ponto de vista do investimento financeiro e pessoal, os clubes têm vindo a cair nas mãos de afortunados russos, americanos, árabes e asiáticos. Mesmo contrariados, os britânicos assistem à invasão de culturas diversas.
A tradicional fleuma e o habitual respeito pelas hierarquias e competências das personalidades que constituem a estrutura técnica e administrativa dos clubes, embora ainda patente em alguns de referência, vai cedendo perante o alastramento de diferentes modos de ser, de estar e de agir.
A globalização é isto. Pode, a partir do cruzamento de experiências, evolucionar realidades estagnadas (neste caso resultou em modelo de jogo evoluído); mas também descaracterizar factores distintivos das sociedades.
O Chelsea e José Mourinho são o mais recente exemplo inglês.
P.S. - Não me parece que este desenlace tenha sido assim tão surpreendente como nos querem fazer crer. Basta ver a postura de Mourinho no banco, desde a recta final da última época, e de interpretar convenientemente as afirmações públicas do treinador. O desenlace aliviou clube e treinador. Mourinho saiu a ganhar de todas as maneiras.