Cenário castrador
Augusto Semedo, 28.12.06
Não está fácil o mandato para o presidente Gil Nadais em Águeda. Num município sem receitas para a sua dimensão geográfica, a sua heterogenidade e legítima ambição; com um PIDDAC dolorosamente escasso e sem respostas para objectivos âncora de há muitos anos; e com as restrições impostas às autarquias, a maioria socialista confronta-se com um cenário castrador e vai ter de apelar à sua imaginação, persistência e persuasão para inverter esta tendência no tempo que ainda tem até às próximas eleições. Serão apenas dois orçamentos e plano de actividades.
Se até agora a preocupação era "arrumar a casa", se para o novo ano são já visíveis algumas opções - discutíveis como todas as outras -, os dois últimos anos de mandato irão dissipar dúvidas sobre a capacidade concretizadora do município. Pelo meio, Gil Nadais vai avisando (entrevista de Outubro ao jornal Região de Águeda) que este não será um mandato para grandes obras.
As tendências do OPA para 2007 apontam para um investimento na zona ribeirinha da cidade: a queda do muro do rio originou um novo projecto para a Praça 1º de Maio e a nova câmara pretenderá estabelecer diferenças para as antecessoras com a eventual concretização de duas ideias antigas (o açude e um parque de lazer com um possível segundo braço do rio).
Mas num mandato que não será de grandes obras, há indefinições sobre a concretização do alargamento do Tribunal (se a opção está tomada tantos anos depois, falta saber quando avança o Governo com a obra), o centro coordenador de transportes (a ideia de aproveitar a estação da CP tem duas décadas mas o processo mantém-se em 'banho maria' enquanto a actual 'garagem' envergonha Águeda), a via rápida a Aveiro (andaram-nos muitos anos a enganar...), as ligações à auto-estrada e a Coimbra, etc...
Investimentos, alguns, que não dependem directamente da Câmara mas que podem ser estimulados pelo peso político de um município que até foi uma conquista socialista num processo eleitoral que correu mal ao PS de Sócrates. Há, contudo, uma dúvida: até que ponto o Governo de Sócrates perdoa o facto de Gil Nadais ter apoiado o candidato Manuel Alegre à Presidência da República, desalinhado portanto do PS de Sócrates que se envolveu na candidatura duplamente perdedora de Mário Soares.
Ademais, a vitória do PS nas eleições autárquicas sob o slogan da mudança, encerra em si mesma um desafio complexo: sucedendo a um PSD que se foi moldando às particularidades da comunidade concelhia, dificilmente haverá mudanças verdadeiramente significativas sem profundas rupturas com a sociedade civil e com custos políticos inerentes.
De Gil Nadais, sabe-se que tem ambição de sobra e uma inesgotável capacidade de trabalho; mas também que não é homem para grandes 'jogos de cintura' nem para, ao contrário de outros que passaram pelo seu gabinete, gerar consensos. Porém, o desafio que tem pela frente exigirá muito mais do presidente da Câmara Municipal de Águeda e da equipa escolhida por si.
Nota final para a perspectiva de uma convivência cada vez mais difícil entre os dois blocos do executivo municipal. A maioria socialista conta com uma 'oposição' presente e não ausente, e que aproveita as reuniões abertas para questionar e propor. O município ganhará com a discussão dos temas, mesmo tendo presente que o jogo político pode condicionar.
No fundo, as desconfianças entre dois blocos - em Águeda como no país - fazem com que os partidos, hoje, surjam mais como entidades fracturantes da sociedade do que como instrumentos privilegiados na contribuição para um melhor futuro colectivo. Se assim não fosse, não faria sentido falar em 'oposição', nem tão pouco que a distribuição de pelouros contemplasse apenas quem ganhou eleições, quando o que está em causa é o futuro colectivo de um Município ou de um Estado. A este nível, a mudança não existe!
(leia www.regiaodeagueda.com)