Os Picos da Europa na Ria de Aveiro
Bem que o exemplo dos Picos da Europa, a norte de Espanha, poderia inspirar os responsáveis locais e nacionais no sector que é tido como um dos mais promissores do nosso país. Lá, mesmo que inserido em duas regiões (Cantábria e Astúrias) menos prósperas, deprimidas até há bem pouco tempo, foi dado corpo a uma estratégia que envolve praticamente toda a comunidade local.
'Picos da Europa' é o produto à volta do qual gravitam vários sectores de actividade. O turismo surge como o motor capaz de fazer progredir a vasta região (ou regiões) que envolvem as fabulosas montanhas, situadas a menos de 20kms do Atlântico.
Com ele, erguem-se (ou remodelam-se, ou reconvertem-se...) ofertas hoteleiras para todas as bolsas (e não só para algumas); criam-se pontos de interesse associados ao produto (infraestruturas rentabilizadas); estimula-se a prática de caminhadas na área protegida (nas rotas muito bem identificadas); potencia-se o património arquitectónico e histórico existente; e envolve-se as vastas pequenas comunidades dos muitos municípios situados em redor dos Picos da Europa. As lojas vendem todo e qualquer tipo de artigo associado às montanhas, os restaurantes incluem na ementa produtos regionais, etc, etc...
Enfim, há uma estratégia comum, envolvendo duas regiões, vários municípios e muitas comunidades locais.
Nós, por aqui, temos a Ria de Aveiro como ícone, à volta da qual várias outras ofertas poderiam fazer desta nossa região um caso sério do ponto de vista turístico. Com o mar e a serra; com uma vasta zona lagunar (onde se inclui a pateira e os rios); com património arquitectónico e histórico; com as nossas aldeias, a gastronomia e o artesanato; e com a capacidade criativa que precisa ser estimulada e apoiada... Uma oferta rica pela sua variedade e complementaridade, envolvendo quase duas dezenas de municípios!
Falta, com toda a certeza, uma aposta séria, a partir de um quadro organizativo diferente do actual. Falta um plano superiormente traçado que apele ao envolvimento colectivo - de entidades públicas e privadas mas também da comunidade -, com objectivos claramente definidos e investimentos programados (mais do que vultuosos, que sejam eficazes e rentáveis).
Urge, por isso, encontrar uma solução mais capaz. A partir de cima (do Estado) deveria vir a Luz para que a Rota pudesse ser estabelecida com a participação das várias instituições locais. Mais do que uma região de turismo, e de instituições que são um peso para si próprias, precisamos de uma verdadeira política de desenvolvimento turístico, integrada, em que todos acreditem e se sintam envolvidos.
Enquanto não se passar a fronteira dos esforços isolados, das medidas avulsas e dos investimentos desarticulados, enquanto a vaidade pessoal superar o interesse comum, continuaremos muito longe do que ambicionamos há muitos anos. E distante do que se faz lá fora, mesmo em realidades que se situam longe das grandes metrópoles...